O produtor e empresário musical Alain Lahana não gosta de ser nostálgico. Responsável por organizar apresentações de bandas como Police, David Bowie, Clash, Iggy Pop, Patti Smith e Rolling Stones desde a década de 70, o francês ainda fica ouriçado com o vigor causado pela novidade. Horas antes de embarcar em um voo noturno de Paris, na França, para São Paulo, Alain não conseguia conter a empolgação em participar da SIM, sigla para Semana Internacional de Música, realizada em São Paulo entre quinta, 4, e domingo, com 30 painéis de palestras, debates, workshops, festas e shows, abertos ao público e, principalmente, aos profissionais da indústria fonográfica nacional. “O músico novo precisa ser singular”, aponta ele. “É preciso criar algo diferente. Se isso não acontecer, não existirá espaço para você”, aconselha.
São palavras de quem viu nascer o movimento punk à distância, na cidade onde morava, em Toulouse, mas, aos 20 anos, criou ali um festival de rock, o Mont-de-Marsan, cuja segunda edição, em 1977, trouxe Clash, Police, The Damned e The Jam como atrações. O mercado naquela época, conta, beirava o amadorismo, embora pudesse ser duro o bastante. “Era muito fácil entrar neste meio”, relembra. “Mas era mais fácil ainda ser expelido por ele.”
Lahana participará dos chamados “speed meetings” realizados durante o evento, em que ele e outros estrangeiros se encontrarão com produtores e empresários locais frente a frente em rodadas de 15 minutos de duração. “Estou querendo descobrir o que vai acontecer”, diz ele. “Para ser honesto, não sei o que esperar. Será que irão me entregar materiais das bandas? Definitivamente, não consigo imaginar.” Ele também está escalado para uma série de perguntas e respostas diante do público, nesta sexta-feira, às 18h.
Outro escolhido para um bate-papo com o público e para os “speed meetings”, o inglês Steve Symons é curador de um dos palcos do festival de música britânico Glastonbury, chamado West Holt, e um entusiasta da sonoridade brasileira há 30 anos – ele já escalou para o palco artistas nacionais como Sérgio Mendes, Os Mutantes e Joyce e sonha em levar, para a edição de 2015, a dupla Gilberto Gil e Caetano Veloso. “Tento não categorizar a música de nenhum país, mas existe algo muito sedutor na produção brasileira”, explica Symons. “É um groove lento, sem pressa, e letras inteligentes.”
O produtor diz conhecer a música criada aqui há 30 anos, desde os tempos de DJ em Bristol, cidade do sudoeste da Inglaterra, mas não se vê como especialista. “É até engraçado isso. Vivemos neste mundo tão conectado que é fácil receber novidades”, conta ele, antes de explicar que a imersão na cultura local só se dá quando se está de fato lá. “Às vezes, isso pode acontecer até mesmo na rua.”
A música ao vivo também faz parte da SIM. São mais de 30 apresentações, entre shows e apresentações abertas ao público – o domingo será totalmente dedicado às apresentações. Artistas nacionais como Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, O Terno, China (lançando o novo disco, Telemática) dividirão as atenções com artistas franceses como Féfé, Zaza Fournier, Rocky, St. Lô, e a norte-americana Akua Naru.
Féfé e Zaza, aliás, são agenciados pela produtora Rat des Villes, presidida por Lahana – o casting ainda traz Patti Smith, Iggy Pop (em uma parceria de 38 anos), Ayo, Saul Williams e GiedRé. Em 1990, contudo, a maré não estava boa para produtores de shows de rock. A então empresa dele, Scorpio, faliu, e Lahana desistiu da indústria. “Abandonei a música completamente”, relembra ele. A salvação veio com a ligação de um amigo, que planejava turnês de Bowie, Phil Collins e Tears for Fear pela França. “Quando a vida lhe oferece uma oportunidade como esta, você não pode recusar”, diz, antes de deixar um segredo – ou lição: “Se você for substituível, você será”.