Opinião

Sempre um final feliz

Neste momento, você leitor que acompanha todo santo dia a novela das oito (que começa só depois das 21h) já terá terminado, com direito ao happy end de sempre. E olha que não sou O Astro e não suporto as revistinhas que antecipam o que vai acontecer nas tramas da tevê. O que irrita é que não existem novidades. Tudo ocorre na maior previsibilidade. A trama segue um roteiro pra lá de manjado: desencontros irreparáveis são superados, vilões sarcásticos, mocinhos que se dão mal a maior parte do tempo para saírem consagrados, entre outras balelas. De uns tempos para cá, alguns gênios do mal passaram a gozar de finais felizes também, até para afrontar um pouco a lógica. Mas tudo seguindo uma normalidade tacanha, um script usual que poderia muito bem ser copiado em páginas da internet. Aliás, os autores devem usar o bom e sempre genial Google. Basta colocar lá: “destino de um vilão”, que aparecerão dezenas de páginas com sugestões. Aí é só dar Ctrl C Ctrl V. Também não falta um assassinato misterioso, cujo autor só será revelado nos últimos momentos do derradeiro capítulo. Quem matou Norma? Quem matou Salomão Hayalla (O Astro)? Quem matou Saulo (de Passione)? Quem matou Thaís (Paraíso Tropical)? Também acho curioso que, ao longo da trama, nas conversas familiares e entre amigos as novelas são temas recorrentes. As pessoas discutem, opinam, contestam… Todos querem fazer valer seus pontos de vista sobre o personagem A ou B. E, em alguns casos, até brigam quando não concordam com determinados desfechos. Geralmente os debates são municiados por aquelas revistinhas que chutam para tudo quanto é lado e uma hora acertam. Sei que é assim. As pessoas precisam se iludir com esse tipo de folhetim. Muitos se projetam naqueles personagens, que ditam modas e costumes. Insensato Coração, por exemplo, pregou como nenhuma outra a união entre pessoas de mesmo sexo, um tabu para a sociedade que acaba sendo aceito até pela forma massiva como é colocado. Neste ponto, vejo uma boa contribuição para a sociedade, quando a novela serve para derrubar preconceitos. Porém, isso é exceção. Segunda-feira, apesar de garantir que esta foi a última novela da minha vida, sei que começa uma nova jornada. Não sei quem será o assassino no final, mas já posso prever um casamento, algumas crianças recém nascidas, gente presa e uma grande revelação daqui uns seis meses. Fim.

Ernesto Zanon Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo

No Twitter: @ZanonJr

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