Um grupo de senadores – democratas e republicanos – apresentou ontem uma proposta de ajuda de US$ 908 bilhões para o combate à covid-19 e a seus efeitos econômicos nos EUA. O objetivo é superar um impasse político que se arrasta há meses sobre quanto o governo federal deve gastar em um pacote de emergência para resgatar a economia americana.
O pacote anunciado ontem é mais uma tentativa do Congresso de responder à pressão da sociedade por ajuda econômica durante a pandemia. A proposta não veio da Casa Branca, do presidente eleito, Joe Biden, nem dos líderes dos dois partidos no Congresso – forças políticas que serão fundamentais na hora da aprovação.
A proposta foi resultado de semanas de negociações entre senadores conservadores e moderados, entre eles os democratas Joe Manchin e Mark Warner e os republicanos Mitt Romney e Susan Collins. Ontem, eles disseram que o pacote foi elaborado como um modelo que deve ser aceito por vários setores do Congresso.
Se antes da eleição eles não chegaram a um acordo, desta vez, os líderes dos dois partidos estão contra a parede. A democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, conversou ontem por telefone com o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. "O pacote de ajuda já deveria ter sido aprovado. Ele tem de passar nas próximas semanas", disse Pelosi. Mnuchin disse que analisaria a proposta apresentada ontem antes de emitir alguma opinião.
A proposta que os senadores centristas acreditam ser capaz de seduzir o Congresso inclui assistência emergencial para pequenas empresas, desempregados, escolas, centros médicos, companhias aéreas e outros setores da economia, além de US$ 160 bilhões em assistência para governos estaduais e locais.
Economistas já alertaram sobre as consequências devastadoras para a economia e para milhões de pessoas se nenhum acordo de estímulo for aprovado em breve. Vários programas de ajuda devem expirar no fim do ano e cerca de 12 milhões de americanos estão prestes a perder benefícios, como seguro desemprego, proteções para locatários e estudantes, além de um programa de licenças remuneradas familiares.
Até agora, o entrave no Legislativo ocorreu porque ninguém se entende sobre o tamanho do estímulo. Os democratas, que controlam a Câmara dos Deputados, têm uma proposta. O líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, tem outra – geralmente, a diferença está no tamanho da ajuda, com os democratas exigindo mais e os republicanos dispostos a dar menos dinheiro.
Biden defende uma resposta urgente do governo, mas ainda não tem a caneta nas mãos. Enquanto isso, o grande ausente parece ser o presidente americano, Donald Trump. Segundo assessores, a pandemia nunca foi um assunto que lhe interessava muito. "Ele nunca gostou do tema e agora passa o dia na Casa Branca, sabendo que perdeu a eleição por causa da covid", afirmou um de seus assessores mais próximos à revista <i>Time</i>.
Há duas semanas, o almirante Brett Giroir, vice-secretário de Saúde, disse ao programa This Week, da ABC, que havia cinco meses que Trump não participava das reuniões da força-tarefa da Casa Branca no combate ao vírus. Os encontros vinham sendo comandados pelo vice-presidente, Mike Pence, e pelo médico Scott Atlas, amigo do presidente, que pediu demissão na segunda-feira.
Com a perda de interesse de Trump, a Casa Branca abandonou completamente a pressão que agressiva que fazia pela aprovação de um estímulo antes da eleição do dia 3. Também não está claro ainda o papel que Biden terá, principalmente exercendo pressão sobre os democratas para que aceitem um pacote mais modesto. (Com agências internacionais)