A perda e suas consequências mais temerosas inspiraram algumas das mesas desta sexta-feira, 12, da 17ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Se a venezuelana Karina Sainz Borgo e o brasileiro Miguel Del Castillo tratam da morte como rompimento da memória em seus romances, o historiador José Murilo de Carvalho explorou a forma peculiar com que os brasileiros definem seu patriotismo também desgrudado do passado.
“O luto faz com que a pessoa reflita não apenas sobre a história da pessoa perdida como também sobre a própria história”, comentou Castillo, cujo livro Cancún (Companhia das Letras) explora o rito de passagem de um menino ao perder o pai e depois, adulto, a iminência de ter um filho. Já Karina, em Noite em Caracas (Intrínseca), revela a transformação na vida de uma moça após a perda da mãe e a consequente derrocada que se transforma sua vida. Trata-se de uma metáfora sobre a desastrada situação vivida hoje pela Venezuela, o que obrigou a escritora a se exilar na Espanha. “Às vezes, acho que nunca saí do meu país porque meus pensamentos continuam presos lá”, comentou. “Quem sai parece que não tem mais voz, não tem mais direitos. A literatura me ofereceu ferramentas para lidar melhor com essa sensação de culpa.”
A perda foi tratada de uma maneira diversa por José Murilo de Carvalho, que relembrou uma pesquisa realizada no Brasil nos anos 1990. “As pessoas foram questionadas sobre o que as deixavam orgulhosas como símbolo de patriotismo e foram lembradas as Cataratas de Iguaçú, a Amazônia, enfim, apenas exemplos geográficos – não foram citados nomes de pessoas”, comentou. “Não havia ninguém ou algo do qual os brasileiros se orgulhassem. Esse é o nosso conceito de patriotismo.”
O historiador participa de um trabalho que busca antecipar o retrato do País em 2050. “Pelas estatísticas econômicas e demográficas atuais, com o crescimento não ultrapassando o 1,5% ao ano, temo pelos milhões de subempregados e os milhões dos que não são mais empregáveis que hoje estão à parte na sociedade. Um tsunami está se aproximando.”
Socos. Um incidente envolveu Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras. Antes da mesa que reuniu as autoras Ayelet Gundar-Goshen e Ayòbámi Adébáyò, ele foi abordado por um homem que o teria ofendido. “Ele passou a me agredir verbalmente, pois – segundo ele -, no lançamento do livro Grande Sertão: Veredas, em São Paulo, em abril, eu teria me recusado a entregar o livro de sua esposa ao escritor Mia Couto”, relatou Schwarcz em uma nota publicada no blog da Companhia.
Quando o homem afirmou saber que ele sofria de depressão, Schwarcz agrediu-o com socos. “Por ser portador de depressão bipolar leve, não controlei meus sentimentos. Foi uma atitude infeliz da minha parte”, disse.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.