Criado como uma forma de democratizar o acesso ao ensino superior, além de avaliar os estudantes de todo o País, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), diante da incompetência do Ministério da Educação, corre o risco de cair no mais completo descrédito. Pelo segundo ano seguido, as provas – aplicadas no último final de semana – correm o risco de não valer nada aos milhões de alunos que passaram um ano inteiro se preparando.
No ano passado, o Enem foi cancelado em cima da hora porque se descobriu que as provas haviam sido roubadas, no momento em que os gabaritos já estavam sendo comercializados. Os danos aos estudantes foram dos mais variados, a ponto de as mais importantes instituições do ensino superior no País não utilizarem, como já vinha ocorrendo, o Enem como critério de admissão em seus vestibulares.
Desta vez, depois que – em tese – as atenções se voltaram ao Enem no sentido de se evitar possíveis fraudes, uma sucessão de erros, que podem até ser considerados primários, por parte dos organizadores – leia-se Ministério da Educação. Candidatos relataram que os títulos das áreas de conhecimento estavam trocados na folha de respostas. O MEC confirma que os cabeçalhos dos gabaritos não coincidiam com aqueles dos cadernos de provas – na folha de respostas as questões de 1 a 45 eram de ciências humanas e suas tecnologias e no caderno de provas essas perguntas correspondiam à área de ciências das natureza e suas tecnologias.
Segundo o MEC, os alunos foram orientados a respeitarem a ordem das questões. Mesmo assim, a confusão foi inevitável, já que os fiscais não estavam devidamente preparados para lidar com a situação tida como inusitada. Para piorar, as orientações foram diferentes em diversos pontos do país. Por exemplo, em Salvador, os fiscais orientaram os alunos a não marcarem nenhuma resposta no cartão até um pronunciamento oficial do MEC. Depois de quase meia hora de espera, os fiscais informaram que os alunos desconsiderassem o título nos cadernos de respostas e marcassem as suas alternativas.
Ontem, a Defensoria Pública da União decidiu que iria recomendar ao MEC que a prova do Enem do sábado (6) seja anulada e aplicada novamente. Segundo a defensoria, a solução apresentada pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) para os erros ocorridos no sábado não contemplaria todos os prejudicados. organizadores do exame. Seja quais forem as medidas a serem adotadas, uma coisa é certa. O exame já está sob suspeita e seu resultado pode realmente apresentar grandes distorções. Em poucas semanas, a maioria dos alunos que passaram pelo Enem começa a enfrentar a maratona de vestibulares e, dificilmente, a exemplo do que ocorreu no ano passado, haverá tempo hábil para encaixar uma data viável para nova aplicação das provas. Passa da hora de o governo federal, que está numa fase de transição, adotar medidas eficazes para que o Enem ainda possa ser salvo. A imagem já está maculada. Resta agora tentar resgatá-la.