Mundo das Palavras

Sérgio Cardoso, herdeiro de Procópio Ferreira

Era o período das grandes personalidades originárias do Teatro, do qual, hoje, só resta a atriz Fernanda Montenegro, cultivada, merecidamente, como grande dama da cultura nacional. Mas,com a mesma proeminência social dela, havia, entre os anos de 1940 e 1970, autores como Nelson Rodrigues, diretores como Augusto Boal, e, atores como Procópio Ferreira. Naquela fase, as Artes Dramáticas, submetidas à avaliação rigorosa de três instituições,exerciam papel preponderante na vida intelectual do país.
 
Avaliavam-naso Governo de São Paulo, através das suas comissões de notáveis, a APCA-Associação Paulista de Críticos de Artes, e, O Estado de São Paulo, jornal densamente conservador. Uma única premiaçãoobtida junto a estas instituições era suficiente para que um artista fosse alçadoao patamar dos semideuses na sua área de atuação. Simultaneamente a este tipo de consagração oficial, um ator também se valorizava muito se conseguia arrancar qualquer elogio de Bárbara Heliodora, críticatida como implacável e polêmicanas suasexigências de qualidade.
 
Ao grande mestre dos atores brasileiros, Procópio Ferreira,porém, coubera um troféu único. E ele o tinha arrebatado na Europa: a espada usada na representação de Hamlet por Eduardo Brazão, grande nome da História do Teatro de Portugal. 
 
Foi neste período quemorreu por enfarte fulminante o ator paraense Sérgio Cardoso, aos 47 anos de idade. Era o ano de 1972. E ele estava, então, no décimo sexto ano de sua carreira. Àquela altura, Sérgio já havia conquistado4 vezes o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, 2 vezes o prêmio da APCA, e, outras 4 vezes, o laurel do jornal O Estado de São Paulo, afora outras honrarias como as conferidaspela Associação Brasileira de Críticos Teatrais e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Bárbara Heliodora se considerava uma pessoa privilegiada porque, dizia, pertencia a“uma confraria” especial: a dos espectadoresdaestreia de Sérgio, no teatro, em 1948.
 
E Procópio Ferreiratornara público que havia doado a Sérgio a espada ganha em Portugal por considerá-lo o atorde maior talento na sua geração. Com aquele gesto, Procópio deixou claro que àquela altura considerava Sérgio seu herdeiro artístico. Depois, Bibi Ferreira, a filha natural dele, também se tornaria uma grande artista. Mas, Sérgio e Procópio não mais deixaram de ser amigos, enquanto viveram. Juntos aparecem na foto que ilustra este texto. Curiosamente, o único nela que usa óculos é Sérgio, o mais jovem dos dois.    
 

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