Os países da América Latina precisam aumentar a integração regional para elevar a taxa de crescimento da economia e de emprego – o que depende de vontade política dos governantes -, segundo o presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), o colombiano Sergio Díaz-Granados. "As peças estão colocadas na mesa para que a região possa crescer mais. Só que é preciso que haja vontade e que se trabalhe pela integração."
Díaz-Granados destaca que o comércio intra-regional não cresce há 25 anos na América Latina e que a integração pode ajudar os países da região diante das adversidades na economia global. Questionado sobre os entraves de crescimento da América Latina, ele diz que os governos precisam prestar atenção, principalmente, na educação, cujas deficiências foram agravadas na pandemia.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
<b>Estamos a menos de um mês das eleições no Brasil. O resultado pode mudar a atuação do banco no País?</b>
Os bancos de desenvolvimento que atuam na região, seja o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ou o CAF, operam como cooperativas onde os governos estão presentes. Trabalhamos com os governos que os povos elegem democraticamente. Os governos podem marcar os temas aos quais querem dar prioridade. O banco tem de procurar ter um bom diálogo com o governo.
<b>O que acha que o Brasil deveria priorizar?</b>
O Brasil tem fronteira com toda a América do Sul. É preciso otimizar as travessias de fronteiras para que haja mais comércio na região. Esse é um tema em que podemos ajudar muito pela capacidade de diálogo que temos nos países fronteiriços. É preciso pensar em um mercado muito mais integrado na América do Sul.
<b>A esquerda está voltando ao poder na região. Isso interfere na integração?</b>
Obviamente o processo de integração depende da vontade, do compromisso e da posição das autoridades. O que fazemos, como banco, é desenhar onde estão as oportunidades e o que aconteceria se tivéssemos uma maior integração. A América Latina tem hoje uma taxa de comércio intra-regional que não chega a 13% das exportações totais. Esse número não cresceu nos últimos 25 anos, apesar de tudo que foi feito. Enquanto isso, as taxas de comércio intra-regional em outras zonas do mundo são o dobro ou o triplo. O que mostramos nos nossos documentos e estudos é que as peças estão colocadas na mesa para que a região possa crescer mais. Só que é preciso que haja vontade e que se trabalhe pela integração.
<b>Nos últimos anos, faltou vontade política então?</b>
Claramente o que foi feito não foi suficiente. As provas estão no pouco ou nulo crescimento do comércio intra-regional. Nosso comércio está dominado por matérias-primas e por uma tendência de exportações para outros blocos, seja Ásia, América do Norte ou Europa. A União Africana conseguiu otimizar seus níveis de comércio mais rapidamente do que nós.
<b>Qual avaliação o sr. faz da situação econômica da região? </b>
Se virmos a situação da América Latina como um filme nos últimos 15 anos, tivemos duas grandes crises. A de 2008 e 2009, que foi financeira e global, e a entre 2014 e 2016, com a queda do preço das matérias-primas e das cotações de commodities energéticas, que, para alguns países, significou perder até 90% de suas exportações energéticas. Por outro lado, ela ajudou países menores da região, que são importadores energéticos. Essa crise aumentou o endividamento dos países maiores e limitou a capacidade de investir na área social. Além disso, teve a pandemia. Não podemos esquecer que disparamos o nível da dívida pública em 2020 e 2021, que a economia teve um rebote em 2021 na sequência da queda brusca de 2020, e que, nesse período, a pobreza e o desemprego aumentaram. O mais preocupante no longo prazo é a educação. Nossa região foi a que ficou com as crianças em casa por mais tempo. Isso vai significar uma baixa produtividade em países que já tinham produtividade baixa. Se estamos entrando em uma era digital e de conhecimento, a América Latina está mal. É preciso fazer algo para que, no resto da década, voltemos a avançar de modo que não seja baseado em matérias-primas como ocorreu nos últimos 20 ano.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>