São Paulo é feita por seus moradores, que diuturnamente tecem a teia social. Caso particular desta que é a mais importante cidade brasileira, ela se tornou a gigantesca metrópole de menos de 100 anos para cá. E toda sua história de enormidades, não por acaso, veio do acolhimento.
Vinculadas à Prefeitura, 379 organizações não governamentais prestam assistência social – 1.282 convênios em vigor atendem 225.379 pessoas. Por mês, os repasses municipais são da ordem de R$ 75 milhões. Também há o financiamento estadual: na cidade, são atualmente 1.324 serviços socio-assistenciais distribuídos em 224 unidades com recursos do Fundo Estadual de Assistência Social – um total de R$ 65 milhões para atender 85.951 pessoas. Mas muitas outras entidades funcionam de forma independente. De acordo com levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado concentra 20,5% do total das ONGs do País, ou 59.586 instituições.
Fundada por religiosos portugueses há exatos 463 anos, com uma pequena população indígena local, a cidade de São Paulo recebeu, dos fins do século 19 aos dias atuais, um total de 2,3 milhões de imigrantes de todas as partes do mundo. Da mesma maneira que os forasteiros de décadas passadas aqui encontraram redes de acolhimento – organizadas por comunidades de estrangeiros aqui já instalados e instituições religiosas -, os excluídos e marginalizados de hoje também são abraçados por benfeitores.
Conheça sete histórias.
Um lar para o próximo
Irmã Rosina Azevedo tem 91 anos e carrega a boa vontade da São Paulo inteira – pelo menos da São Paulo das portas para fora, em que 16 mil são moradores de rua. A religiosa comanda o Centro de Convivência São Vicente de Paulo, nos Campos Elísios, no centro. Ali, se depara com uma rotina de cuidados a moradores de rua. “São pessoas que dormem na rua ou em albergues. Aqui, encontram assistência durante o dia”, conta ela. A boa vontade da São Paulo inteira é porque o local não depende de verbas públicas: parte das despesas é custeada pela congregação religiosa de irmã Rosina, as Irmãs Vicentinas de Gysegem. O restante vem de doações.
Ração para 500 bichos
Desde que fundou o projeto Cão Sem Fome, há 6 anos, a escritora infantil Glaucia Lombardi, de 46, não sabe o que são férias. Todos os sábados são dedicados à causa que tomou para si como projeto de vida: garantir que 380 cães e 120 gatos paulistanos tenham ração no prato e, sempre que necessário, vacinas e remédios. Apaixonada por cães – atualmente, tem as cadelas Mônica, de 3 anos, Madre Teresa, de 10, e Clotilde, de 12, todas adotadas depois que foram abandonadas nas ruas -, Glaucia descobriu sua missão de vida depois de uma viagem pelos interiores do Brasil. “O que mais me chocou foi a fome dos bichos”, conta.
Para o que der e vier
O jornalista Sérgio Lapastina, de 51 anos, está à frente do Grupo da Boa Vontade, um projeto que reúne 52 voluntários no WhatsApp – e outros 700 e tantos no Facebook – com o objetivo de ajudar. Ajudar no quê? “No que pudermos, de acordo com as aptidões de cada um”, resume ele. Uma vez por mês eles preparam cachorros-quentes e saem às ruas do centro enchendo os estômagos dos que tentam dormir apinhados nas praças e calçadas. Mas não é só. Quem tem algo para se desfazer, o procura. Todo dia é algum pacote na portaria do prédio, sua casa tem doações em tudo que é canto. Sérgio sempre sabe para onde direcionar cada item recebido.
Uma rede de padrinhos
O jornalista Sérgio Lapastina, de 51 anos, está à frente do Grupo da Boa Vontade, um projeto que reúne 52 voluntários no WhatsApp – e outros 700 e tantos no Facebook – com o objetivo de ajudar. Ajudar no quê? “No que pudermos, de acordo com as aptidões de cada um”, resume ele. Uma vez por mês eles preparam cachorros-quentes e saem às ruas do centro enchendo os estômagos dos que tentam dormir apinhados nas praças e calçadas. Mas não é só. Quem tem algo para se desfazer, o procura. Todo dia é algum pacote na portaria do prédio, sua casa tem doações em tudo que é canto. Sérgio sempre sabe para onde direcionar cada item recebido.
As mães do abrigo
Histórias de crianças órfãs ou vítimas de abusos costumam sensibilizar. No caso de mães, o inevitável é pensar que a vítima em questão poderia ser o próprio filho. Pois mães de alunos de uma escola da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo, decidiram não ficar só nos olhos marejados e botaram em prática um plano para ajudar crianças que vivem em abrigos: nascia a ONG Ciranda para o Amanhã. “Alguns tinham uma situação muito precária”, conta a advogada Paula Martinez Ramos, de 35 anos, uma das fundadoras, ao lado da analista Isabella Filippi Britto, de 39. Atualmente, são atendidas 300 crianças de 15 abrigos diferentes.
Refúgio dos imigrantes
As estatísticas impressionam: por ano, são atendidas de alguma maneira pela Missão Paz 7 mil pessoas de 64 países – 56% do Haiti; 15% da Bolívia; 6% do Peru e pelo menos um representante de cada uma de quase todas as nações africanas. À frente de todo esse trabalho está o padre Antenor João Dalla Vecchia, de 62 anos, gaúcho que vive em São Paulo desde 1977. “Vejo que a cidade abriu caminhos para acolher bem quem vem de fora. Mas ainda sinto que é preciso fazer uma mobilização no sentido de melhorar a relação”, avalia o sacerdote. “Infelizmente, ainda há manifestações de rechaço, de xenofobia e de preconceito.”
A palavra é “empoderar”
Filha de um ex-morador de rua de Paris, a ex-consulesa da França Alexandra Baldeh Loras, de 40 anos, tem uma sensibilidade especial para os que passam por situações vulneráveis. Recentemente, tornou-se embaixadora do Plano de Menina, projeto criado pela jornalista Viviane Duarte. São dadas palestras e oficinas de “empoderamento”, feitas semanalmente em duas escolas, uma no Grajaú e outra no Capão Redondo, voltadas para adolescentes. “São meninas que poderiam engravidar ainda muito jovens, ou que tinham como único horizonte trabalhar como faxineira em vez de estudar”, diz Alexandra. “Damos a elas perspectivas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.