Com queda na produção em quase 8%, mais intensa do que a média nacional, e três mil demissões no último ano, a associação das indústrias automobilísticas que operam no sul do Estado do Rio de Janeiro discute com o governo estadual medidas para alavancar as vendas e melhorar a competitividade do setor. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) prometeu avaliar a possibilidade de o próprio Estado adquirir ônibus escolares para os municípios e de incentivar a substituição da frota atual de táxis somente com veículos produzidos no Rio, já de olho nos Jogos Olímpicos 2016.
“Não sei se é possível, mas é uma maneira de melhorar e renovar a nossa frota, com o mote dos Jogos Olímpicos. Também podemos tentar comprar ônibus escolar, para ajudar municípios”, disse Pezão ao participar de fórum promovido pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). “Temos que fazer os ajustes que são necessários na máquina pública, mas a gente não pode deixar de crescer, de pensar no emprego, nos trabalhadores.”
O cluster automotivo do sul fluminense inclui cinco grandes montadoras (Nissan, PSA Peugeot Citröen, Hyundai, Jaguar e MAN Latin America) e mais de 20 empresas fornecedoras. Com a crise no setor, as fábricas já demitiram três mil pessoas em um ano. Dos 12 mil trabalhadores remanescentes, três mil estão em férias, licenças remuneradas ou lay-off (suspensão temporária de contratos).
“Esses outros três mil ainda estão ligados à empresa, mas nós estamos avaliando”, afirmou Wesley Custódio, presidente do cluster automotivo. Ele não descartou novos ajustes na mão de obra das fábricas, caso o processo de retomada demore a acontecer.
Estímulos
Além de injetar demanda, Pezão destacou a necessidade de melhorar as condições de financiamento para o setor automotivo. Já do lado das empresas, os pedidos são por estímulos fiscais, como desoneração do IPVA (principalmente para taxistas), medidas de competitividade (como redução dos custos com energia elétrica e transporte) e melhorias na infraestrutura.
Hoje, as fábricas, sediadas nos municípios de Resende, Porto Real e Itatiaia, enfrentam dificuldades no escoamento da produção devido à capacidade insuficiente da Rodovia Presidente Dutra (BR-116), cuja concessão é da CCR. A renovação do contrato com a concessionária prevê a construção de vias marginais, para facilitar o trânsito na região. “Estamos fazendo investimentos ali, mas ainda tem muito a ser feito”, reconheceu Pezão.
A criação de incentivos fiscais, por sua vez, está em estudo pela área econômica, mas o governador adiantou que a situação financeira do Estado do Rio é delicada. “A gente está sempre aberto a dar incentivos. Agora, o Estado tem seus limites, a gente já deu muito incentivo nessa área.”
O argumento do setor, no entanto, é de que a desoneração serviria de alavanca às vendas e, consequentemente, à arrecadação do Estado. Hoje, as receitas com tributos estão minguando, justamente porque as vendas estão em queda. “Se o Estado vai adotar ou não, não sabemos. (Com o estímulo) Nós vamos vender mais, então o Estado vai arrecadar mais. Hoje, quando não vendemos, além de as empresas demitirem, não tem geração de recursos para o Estado”, disse Custódio.
A incerteza política é outro fator prejudicial à indústria, que não consegue fazer seu planejamento. “Há um mês, a gente pensava que o dólar chegaria a R$ 4 talvez no fim do ano. Hoje a gente já pensa se ele vai chegar a R$ 4 no fim do mês”, reclamou Custódio.