O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, afirmou nesta segunda-feira, 26, que a recuperação do setor está ocorrendo em um ritmo abaixo do seu potencial. "O setor da construção é como uma Ferrari com freio de mão puxado", declarou, durante entrevista coletiva à imprensa. "Poderíamos ter recorde de contratações e geração de empregos. Mas uma série de temores aos empresários fizeram com que não chegássemos ao nível de atividade ao qual poderíamos chegar".
O principal problema, segundo ele, foi o recorde de alta nos custos de materiais. De acordo com a Sondagem da Construção realizada pela CBIC, 55,5% dos empresários consultados no segundo trimestre relataram problemas como disparada nos custos ou até mesmo desabastecimento.
O presidente da CBIC voltou a defender redução no imposto de importação do aço para favorecer a oferta de matérias para o mercado local. Outro problema, segundo Martins, foram os ruídos na proposta de reforma tributária, que apontavam para um potencial aumento da carga tributária do setor. Segundo o presidente da entidade, esse é um tema que continua provocando incertezas.
Martins também destacou a queda nos financiamentos com recursos do FGTS para a compra e a construção de imóveis. "O financiamento com FGTS estancou", disse, referindo-se à queda nos empréstimos dessa modalidade no primeiro semestre. O crédito via FGTS atende à produção de imóveis para população da baixa renda, onde se concentra 90% do déficit habitacional. "Os recursos do FGTS estão sendo voltados para outros fins. E o aumento de custo inviabiliza projetos nessa categoria", complementou.
A economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, também alertou para a inflação acima da meta do governo e para a consequente elevação da taxa básica de juros, que tende a provocar aumentos nas taxas de juros do crédito imobiliário.
Pelo lado positivo, Ieda Vasconcelos citou projeções mais satisfatórias para o PIB nacional e uma melhora paulatina da confiança dos empresários. Outro ponto positivo é avanço recente no processo de vacinação.
<b>PIB do setor</b>
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor em 2021 vai subir 4%. Se confirmado, o resultado será o maior desde 2013, quando havia aumentou 4,5%.
A CBIC iniciou o ano com previsão de alta de 4% para o PIB setorial, mas acabou baixando esse dado para 2,5% em abril, após as paralisações provocadas pela pandemia e o aumento das incertezas sobre os rumos da economia.
A retomada agora da projeção de alta de 4% para o PIB setorial está baseada nas sinalizações de um nível satisfatório de recuperação da economia brasileira, explicou Ieda Vasconcelos.
A economista também disse que os juros ainda baixos dos financiamentos imobiliários têm ajudado a sustentar os lançamentos e vendas de imóveis, bem como as vendas de materiais de construção para o varejo.
"O incremento do financiamento imobiliário, as taxas de juros ainda em baixo patamar, a melhora do ambiente econômico, a demanda consistente, mesmo diante da pandemia e a continuidade de pequenas obras e reformas são algumas das razões que ajudam a justificar a projeção atual", explicou.
A economista ponderou, entretanto, que a melhora do PIB da construção não significa um forte crescimento. De 2014 a 2020, o setor acumula queda de 33,34% nas atividades.
<b>Compra de imóveis</b>
José Carlos Martins, disse acreditar em um nível aquecido de demanda por imóveis ao longo de 2021 e de 2022. "O ímpeto vai continuar", afirmou. Na sua visão, os juros para os financiamentos imobiliários tendem a continuar em um patamar abaixo da média histórica mesmo que venham aumentos nas taxas como reflexo do ciclo de alta da Selic.
Martins ponderou que o aumento da Selic reflete problemas temporários em função da pandemia, da inflação acima da meta do governo, e do cenário internacional conturbado nos últimos meses. Por outro lado, o crescimento da Selic não deve atingir novamente os picos do passado. "Mas não vejo mais a economia do Brasil convivendo com Selic alta".
O presidente da CBIC reiterou a interpretação de que a pandemia despertou novos comportamentos nos consumidores, como a valorização da moradia, preferência por espaços maiores e maior disposição para reformas.
<b>Atividade</b>
O setor da construção vem apresentando melhora no nível de atividade após recuo no começo do ano, apontou a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos. Desde abril, o setor vem registrando avanço no ritmo de atividades e, em junho, marcou 51 pontos no Índice de Nível de Atividade, apurado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O resultado indica que o setor voltou para o campo positivo. O índice vai de 0 a 100 pontos, sendo que pontuação acima de 50 representa um nível de atividade positivo. O resultado também representa um desempenho acima da média história do setor, de 45,6 pontos.
Com esse desempenho, a construção praticamente voltou ao mesmo nível de atividade registrado em setembro de 2020, quando marcou 51,2 pontos. "A construção está entrando no segundo semestre no campo positivo", disse Ieda Vasconcelos. "Há três meses consecutivos setor vem registrando atividade acima da média".
Na apuração da média trimestral, o setor marcou 48,6 pontos no segundo trimestre, o melhor desempenho para o período desde 2012. "Ou seja, o setor está produzindo mais", disse.
Entre o fim de 2020 e o começo de 2021, a construção foi afetada pelo recrudescimento da pandemia, paralisação de vários setores da economia e elevação da incerteza sobre os rumos do País. A atividade de construção também foi duramente impactada pela disparada nos custos dos materiais, que inibiram o início de novos projetos, lembrou a economista.
A recuperação da construção tem se traduzido em criação de novos postos de trabalho. Entre maio de 2020 – quando a pandemia abalou profundamente a economia – e junho deste ano, foram criados 300 mil postos no setor, passando de 2,1 milhões para 2,4 milhões.
José Carlos Martins disse que há potencial para retomar a marca de 3 milhões de vagas de emprego, como já foi registrado anos atrás. Mas isso depende da dissipação de incertezas, como a do aumento dos custos dos insumos, que inviabilizam muitos projetos, afirmou o presidente da CBIC.