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Sheku Kanneh-Mason faz concertos na Sala São Paulo

E então o mundo caiu sobre os ombros do violoncelista britânico Sheku Kanneh-Mason. Em 2016, ele já havia vencido o concurso para jovens talentos da BBC. Mas, dois anos mais tarde, em maio de 2018, foi ouvido por quase dois bilhões de pessoas ao se apresentar no casamento do duque e da duquesa de Sussex, Harry e Meghan. Estava com 18 anos.

"A atenção que se seguiu ao casamento foi imensa, mais e mais convites foram aparecendo, concertos, gravações. Foi um momento especial, mas ao mesmo tempo precisei encontrar uma maneira de me manter focado, investigando, explorando o repertório e o instrumento. Pois para isso é preciso espaço", diz.

Sheku conversou por telefone com o <b>Estadão</b> na última sexta-feira. Estava no Rio de Janeiro, aproveitando um breve período de férias antes de vir a São Paulo. Aqui, ele se apresenta na quinta, na sexta e no sábado ao lado da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que será regida por Sir Richard Armstrong. Também na Sala São Paulo, ele faz recital no domingo ao lado da irmã, a pianista Isata Kanneh-Mason.

É sua primeira vez no Brasil. Mas a música brasileira lhe é conhecida. Em especial pelo contato com o violonista brasileiro Plínio Fernandes. Os dois mantêm em comum o interesse pelo futebol e pela música, além de serem fenômenos recentes da indústria fonográfica. Com o álbum Saudades, Plínio chegou ao topo da lista de música clássica da Billboard, passando à frente de álbuns das filarmônicas de Berlim e Nova York com o compositor John Williams e o violoncelista Yo-Yo Ma.

O violonista (que abre em abril a temporada da série de violão da Cultura Artística) participou em Scarborough Fair, faixa de um dos discos de Sheku, Elgar, lançado em 2020. E, durante a pandemia, viveu em Londres com a família do músico: que inclui outros seis instrumentistas, como Isata, pianista, e Braimah, violinista. Foram todos companheiros de estudos na Royal Academy of Music.

<b>NEGÓCIO DE FAMÍLIA</b>

Sheku Kanneh-Mason cresceu, portanto, em um ambiente musical. Não era sempre fácil, ele brinca, relembrando episódios como a necessidade de estudar dentro de um armário, para conseguir ouvir a si mesmo. "Mas crescer em volta de tanta música, e de tantos músicos, foi algo que me ajudou a me definir como artista. É muito comum que o estudo de um instrumento seja algo solitário, e de fato é preciso um grau de concentração e introspecção. Estar naquele ambiente, porém, oferecia uma situação um pouco diferente. Ainda que você esteja sozinho com o violoncelo, não está isolado. Por mais barulhenta que a casa pudesse ser às vezes."

Naturalmente, ele hoje se apresenta em duos ou outros conjuntos com os irmãos. Como fará no recital de domingo, ao lado de Isata, quando vão tocar Frank Bridge, Chopin e Shostakovich. E vem daí, acredita, seu interesse pela música de câmara, pelo contato próximo com outros músicos na construção da interpretação. Mas, mesmo quando está ao lado de uma orquestra, ele busca esse espaço mais intimista de interação. "O Schelomo, de Ernest Bloch, que vou tocar com a Osesp, por exemplo, é uma peça em que a relação entre o violoncelo solista e a orquestra não se limita ao papel de solista versus acompanhamento. Há um outro tipo de interação que me fascina nessa obra, que venho tocando bastante e pedi para interpretar aqui."

Para ele, quando se faz música, o ponto central "é ser capaz de olhar a peça do ponto de vista dos outros artistas que estão à sua volta". "É inspirador o modo como, por meio da música, podem-se estabelecer formas diferentes de contato. E como isso ajuda em meu desejo de crescer, desafiar."

<b>GAROTO-PROPAGANDA</b>

A trajetória de Sheku toca em alguns itens da longa lista de desafios de um meio musical como o clássico: maior diversidade, oposição ao racismo estrutural, aposta na educação musical desde a infância e formas de atrair um público mais jovem. Não por acaso, ele tem sido lembrado e citado como uma espécie de garoto-propaganda de um futuro que se imagina diferente, mais rico.

Mas o próprio violoncelista vê com ressalva esse tipo de narrativa, ou melhor, reconhece que há nela o risco de reduzir a fórmulas simples um tema que é complexo. "Se eu posso de alguma maneira atrair mais jovens para as salas de concerto ou então ser um exemplo para jovens negros que não se sentem representados neste mundo, isso é algo realmente maravilhoso", diz.

"Ao mesmo tempo, não há transformação se, do exemplo individual, não vierem novas percepções a respeito do que é importante neste momento. Eu tenho muita sorte por ter contado com pais e professores que me apoiaram e ajudaram a criar um ambiente no qual eu pudesse desenvolver minhas habilidades."

E sorte não pode ser critério. "A chave é que, antes de mais nada, é preciso entender a importância da educação na vida das pessoas. Falo da educação em geral e da educação musical também. Mas é preciso entender e fazer algo a respeito, investir de verdade nisso."

Sheku Kanneh-Mason
Sala São Paulo
Praça Julio Prestes, 16.
Tel.: (11) 3367-9500.
5ª e 6ª, 20h30. Sáb., 16h30. Dom., 18h. R$ 50 / R$ 258

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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