O Likud, partido do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, enviou monitores com câmeras corporais ocultas aos centros de votação em áreas árabes do país nesta terça-feira, 9, durante as eleições legislativas do país. A controvertida iniciativa foi criticada por políticos opositores, que acusam Bibi e seu partido de tentar intimidar os árabe-israelenses – que compõem 21% da população do país – e dissuadi-los de votar.
A polícia israelense disse que encontrou “uma série de possíveis irregularidades nas seções eleitorais na região norte” de Israel, onde muitos árabe-israelenses vivem. Segundo o jornal Haaretz, foram localizados cerca de 1,2 mil equipamentos de filmagem.
Netanyahu – que, segundo as pesquisas, está tecnicamente empatado com seu principal adversário, o general Benny Gantz – defendeu a filmagem nos centros de votação e afirmou que deveria haver câmeras nestes espaços para “garantir o voto legítimo”.
Em 2015, o premiê irritou líderes árabes ao afirmar que os membros desta comunidade votavam “em massa”. Analistas disseram que a declaração foi uma tentativa de ampliar o apoio em sua base direitista e aprofundou a desconfiança de longa data entre os árabes.
O voto em Israel
Em Israel, representantes da maioria dos partidos se reúnem nos locais de votação para verificar o processo de identificação pré-votação. Depois de confirmados, os eleitores recebem um envelope e vão para uma área privada para escolher seus candidatos.
O deputado árabe Ahmad Tibi disse que as câmeras vistas nas urnas na terça eram ilegais e foram uma “tentativa direta de sabotar” a liberdade de voto.
Jamil Baransi, vice-prefeito de Reineh, uma cidade árabe no norte de Israel, disse que monitores de partidos de direita levaram câmeras para todos os 17 centros de votação na região. “Percebemos que esses representantes tinha uma câmera neles, em seus corpos”, afirmou. Para Baransi, o objetivo com as câmeras era “intimidar os eleitores”. Ele confirmou a atuação da polícia e que as pessoas com câmeras deixaram os centros de votação.
Em uma eleição tão disputada, um fator-chave pode ser o comparecimento dos árabes. Muitos árabes ficaram irritados com uma lei aprovada por Israel em 2018 que declarou que apenas os judeus têm o direito de autodeterminação no país. Netanyahu apoiou a medida.
Autoridades árabes nas zonas eleitorais em várias cidades no norte disseram que as câmeras não filmaram as áreas privadas onde os eleitores votam, mas estavam presas às camisas dos representantes do Likud, com a lente visível.
As reclamações foram registradas em seções eleitorais de distritos predominantemente árabes ou de constituição mistas. Um funcionário do partido confirmou que as câmeras foram enviadas, dizendo que era para garantir que não houvesse manipulação de votos.
“Elas não são câmeras escondidas. São câmeras visíveis”, disse Kobi Matza, um funcionário do Likud à rádio Kan. “Estamos preocupados com votos irregulares nos setores árabes.” Questionado se representantes com câmeras também foram enviados para áreas de maioria judaica, um porta-voz do Likud disse que não sabia.
O juiz Hanan Melcer, chefe da comissão eleitoral de Israel, disse estar ciente das reclamações sobre as “câmeras escondidas”, mas esclareceu que “os eleitores não foram filmados nas cabines de votação”.
O magistrado afirmou que é proibido filmar dentro dos colégios eleitorais a não ser que haja preocupação com possível “dano significativo” causado ao processo de votação, como ameaças, suborno ou violência. Um membro da comissão eleitoral disse que não se lembrar do uso de câmeras em eleições anteriores.
Ahmad Jamal Mahagny, de 30 anos, eleitor na cidade de Umm al-Fahm disse não entender muito bem qual o objetivo do Likud com o uso das câmeras. “Talvez eles quisessem desqualificar os votos aqui”, afirmou. (Com agências internacionais).