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Sim, nós podemos

Todos costumamos ser céticos ao chamado a um desejável e hoje imprescindível protagonismo. Somos chamados a salvar o Brasil, imerso na rapina e na gatunagem dos que se apoderaram do patrimônio público.
 
A primeira reação é argumentar com nossa impotência, insuficiência e insignificância diante do mal de que se impregnou a República, incapaz de fazer frente à metástase das suas entranhas. Mas um pouco de coragem levará à constatação de que governo precisa ser reduzido à sua missão original: instrumento de realização individual e coletiva. Meio e não fim! Ferramenta, não finalidade.
A cidadania é que deve tomar as rédeas. Impor as políticas públicas saudáveis. Não pactuar com a malandragem, sob qualquer de suas formas. Não admitir malfeitos, sejam quais forem os malfeitores.
 
O momento é de sacrifício e prudência. Reabilitar a ascese, que significa viver com menos. Consumir menos, gastar menos, pensar num amanhã que pode ser bem pior do que se imagina. Reduzir gastos, fazer mais com menos, exercer a criatividade. Inovar. Redesenhar estilos de vida. Valorizar o que se tem e não alimentar ilusões quanto ao amanhã.
 
Há irracionalidades que poderiam cessar de imediato, assim o quisesse a população. Pense-se em dispêndio desnecessário. A capital paulista despende 1 bilhão por ano em coleta de lixo. Por que motivo? Porque somos pouco asseados. Perdulários e insensíveis. Se cada um cuidasse de manter seu espaço limpo, essa quantia seria destinada a funções mais nobres. 
 
O quanto se gasta com a conservação de jardins e praças públicas? E com sua limpeza? E com a pintura e preservação de estabelecimentos de ensino e próprios públicos destinados a outras finalidades?
 
Se as comunidades de bairro adotassem esses equipamentos e cuidassem de mantê-los em ordem, haveria orçamento para aperfeiçoar o sistema de saúde, o saneamento básico, a infra-estrutura. 
 
Houvera maior zelo por parte da cidadania e as cidades não estariam a oferecer esse espetáculo deprimente de sujeira, abandono, descaso e ocupação por um despossuído que perdeu, primeiro do que a matéria, a sua autoestima, o seu senso de dignidade. Quando nos acostumamos com a podridão, com a imundície e com a falta de estética – e ética é a estética d'alma – pouco pode fazer o Estado. Pois ele atende às aspirações da maioria, como deve ser no regime democrático. E se a maioria não tem capacidade de se indignar, continua a acreditar que o governo é o responsável por tudo e que na Constituição da República só há o capítulo dos direitos, excluída a tábua dos deveres, então não haverá mais jeito.
 
Mergulhar no abismo e deixar a civilização muito longe é fácil e caminhamos, aceleradamente, nessa direção. Mas a vontade humana é mais forte do que a inércia. Reajamos! Acordemos o inconformismo e o ímpeto de mudar! Façamos nossa parte! Assumamos nossas responsabilidades perante nossa descendência e retomemos as rédeas desta Nação, cuja trajetória não pode ser o de besta desgovernada, mas a de povo bom e suficientemente adulto para conduzi-la até sua nobre predestinação. 
Nós sabemos que isso é possível! Basta querer com intensidade e converter a vontade em ação.
 
José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo        
 

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