Ao estrear sua turnê nacional, há seis meses, Simone se deparou com um cenário que jamais vira, em 40 anos de carreira: parte do público que foi vê-la nunca havia entrado num teatro nem numa casa de show. Teve gente levando marmita por não ter dinheiro para comer fora. Teve fila desde cedo na bilheteria, ingressos se esgotando em uma hora.
“Se você oferece cultura, as pessoas vão. Está sendo um prazer enorme. Você não sabe o que é o olhar de uma pessoa que está vendo o primeiro show da vida dela. Eu me lembro da primeira vez em que fui ao teatro, uma menina de 16 anos, já morando em São Paulo, numa peça com Rosamaria Murtinho e Francisco Cuoco. Então me coloco no lugar deles”, compara a cantora baiana, que, curada de uma hepatite que interrompeu a sequência de shows, está retomando agora as viagens, iniciadas em outubro. A reestreia será nesta sexta, 11, no Vivo Rio.
O frisson despertado pela turnê É Melhor Ser se deve ao valor dos ingressos: R$ 1. E ainda há vendas a R$ 0,50, em respeito à obrigatoriedade da meia-entrada. Os ingressos só podem ser adquiridos pessoalmente, para evitar a ação de cambistas e a revenda a valores muito mais altos.
Era um desejo antigo de Simone oferecer a quem não tem recursos o mesmo show pelo qual se cobra R$ 100 (preço das apresentações da intérprete em 2014, no Rio): em grandes palcos, com direção da atriz Christiane Torloni – que a colocou o tempo todo no centro do palco -, cenário de Hélio Eichbauer, e arranjos de Leandro Braga para um repertório que tem Chico Buarque (Sob Medida), Ivan Lins (Começar de Novo), Dolores Duran (A Noite do Meu Bem), Sueli Costa (Jura Secreta), Angela Ro Ro (A Vida É Bela)…
“Queria um show assim (quase gratuito) há muito tempo, mas não poderia fazer isso se não fosse o patrocínio da Bradesco Seguros. Eles aceitaram e mostraram que eu não estava errada. Esse espetáculo é um presente para mim”, diz Simone, que diminui seu ganho com a turnê, mas acredita ter “ganho muito mais”.
Ela prefere não se posicionar quanto à recente decisão do Tribunal de Contas da União de vetar os incentivos fiscais via Lei Rouanet (da qual patrocinadores se valem) para eventos culturais lucrativos (ainda cabe recurso). “Sou patrocinada pela Bradesco Seguros desde 2009. Não posso comentar coisas sem ter capacidade para isso. Se eu pudesse só cantar de graça, eu cantava”, afirma.
O show já esteve em Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo e passará por Curitiba (dia 19), João Pessoa (16/4), Fortaleza (21), Natal (23), Recife (28), São José do Rio Preto (21/5).
As comemorações dos 40 anos de música vêm desde 2013 – a referência é o primeiro LP, Simone (1973). Neste 2016, os 40 anos são de O Que Será, a música de Chico Buarque tema de Dona Flor e Seus Dois Maridos, filme que tornou sua voz conhecida em todo o País, e que foi o mais visto da história do cinema brasileiro por 34 anos.
Depois disso, seria lançado um LP por ano e Simone dominaria rádios e programas de TV. Sua marca é de 20 milhões de discos vendidos, algo difícil de explicar ao público nascido no século 21. “Já me adaptei há muito tempo, nunca fui uma pessoa que respirei o sucesso”, conta. “Tenho feito tudo o que quero: não importa se levo dois, três anos para isso”, acrescenta.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.