Nas últimas horas, a mesma pergunta martelou na cabeça: como iniciar um texto sobre os 60 anos de Madonna, ou Madonna Louise Ciccone, como está descrito na sua certidão de nascimento em Bay City, no Estado norte-americano de Michigan, em 16 de agosto de 1958, exatos 60 anos atrás. Enumerar algumas polêmicas, talvez? Seria uma solução que garantiria a atenção de quem curte os babados dos famosos.
Poderia, é claro, dizer que a rainha do pop, aquela que é dona de um dos nomes mais conhecidos e reconhecíveis do mundo, vive atualmente em Lisboa, com seus filhos, e que tem tirado o sossego da conhecida como Cidade da Luz (é Lisboa, pessoal) com suas mínimas ações. Alguns portugueses reclamam da falta de paz, outros reclamam do furor midiático por conta da presença de Madonna pelas ruas, casas de shows, restaurantes e praias próximas da capital portuguesa.
Quem sabe contar, como aqueles sabichões dos programas vespertinos de fofoca de celebridades, de peito estufado e cara de quem tudo sabe, sobre os planos de Madonna para a celebração desse aniversário de 60 anos (será uma festança, obviamente, em Marrakesh, no Marrocos). Também poderia, como quem não quer nada, enumerar alguns dos 50 convidados ultravips cuja identidade você talvez não conheça e isso só corrobora o fato de que eles são tão exclusivos que nem sequer os conhecemos. Aqui vão alguns deles: Mert Alas e Marcus Piggot, ambos fotógrafos, e Ricardo Tisci, estilista.
Outra boa opção seria dar início à celebração de Madonna com seu impacto na música pop, reunir seus principais discos, hits de todos os sabores. Quem sabe, também, enumerar todas as cantoras que se sacodem nas premiações da MTV até hoje como filhas, netas ou herdeiras musicais de Madonna. Interessados na leitura a respeito de música gostariam dessa opção, e certamente chegariam ao quarto parágrafo.
Mas, de alguma forma, a dúvida em como seria o início de um texto que introduz – e ou resume – a vida e a obra de Madonna fez com que o leitor chegasse até aqui. E é essa figura aqui ao lado, nas fotos desta página. Madonna, por si só, é um mito. Personagem de mil faces, diferentes estilos musicais, de mil e uma histórias que mereciam estar no lead desse texto.
Foi ela que mudou o que entendemos como diva, no melhor e no pior sentido, também é quem mostrou que você pode cantar os tesões da vida, com a mesma intensidade de um amor puro e límpido, virginal.
Uma cantora que, pelo amor de Deus!, vendeu 300 milhões de discos, segundo dados da Warner Music, em uma carreira iniciada pouco mais de 30 anos atrás. Artista cuja turnê Sticky & Sweet, realizada entre 2008 e 2009, é a sétima mais rentável da história, mesmo com 85 datas apenas – no topo da lista está a U2 360° Tour, da banda irlandesa, que fez 110 apresentações.
Em contrapartida, é também a personagem em cuja passagem mais recente pelo Brasil os contratantes se viram obrigados a realizar promoções “dois ingressos pelo preço de um” para que ela não se apresentasse em um estádio esvaziado – tão diferente da primeira passagem por aqui, em 1993, quando ela lotou o Morumbi, em São Paulo, e esteve diante de um impressionante número de 120 mil pessoas no Maracanã, no Rio de Janeiro.
Capas de todas revistas mais importantes do mundo, artista mais desejada por jornalistas para “grandes entrevistas” hoje prefere a reclusão e a ausência.
Por horas, pensei em Madonna. Em como ela já foi número 1 e como ela falhou. Tão humana, como eu e você – isso é lindo. A diferença é que com o nome e as fotos dela na página, os olhos do leitor chegam até o fim desse texto. É, talvez devesse ter iniciado o artigo com um simples “Madonna completa 60 anos…”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.