Economia

Sindicatos criticam conotação política da greve de caminhoneiros

Sindicatos dos caminhoneiros no Rio Grande do Sul dizem que é difícil prever a adesão ao protesto e o impacto que a greve marcada para a próxima segunda-feira, 9, terá no transporte de mercadorias no Estado. O movimento, com perfil diferente de outros realizados pela categoria, não é coordenado por essas entidades. Ao invés de centrar a pauta em reivindicações por melhores condições trabalhistas, o Comando Nacional do Transporte, que está convocando a mobilização, reconhece que o objetivo principal, desta vez, é exigir a saída da presidente Dilma Rousseff. No Rio Grande do Sul – um dos Estados mais ativos nas manifestações de caminhoneiros ocorridas entre fevereiro, março e abril -, a conotação política explícita está provocando críticas por parte de sindicatos, que não apoiam o movimento.

“A questão política está sendo discutida no Congresso e em outras esferas. Seria melhorar deliberar sobre as necessidades da categoria. Pressionar o governo é necessário, mas não desta forma”, disse ao Broadcast Agro, serviço em tempo real da Agência Estado, o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Ijuí, Carlos Alberto Litti Dahmer.

Ele conta que 16 mil profissionais fazem parte da base do sindicato. Em março, segundo Litti, mais de 80% dos caminhoneiros da região noroeste do RS aderiram à greve. Apesar de discordar do mote da nova paralisação, a entidade “liberou” os filiados a participar dos atos a partir da semana que vem. “Vai depender da consciência de cada um”, afirmou.

Na página do Comando Nacional do Transporte no Facebook, um dos líderes do movimento, Ivar Schmidt, de Mossoró, no Rio Grande do Norte, explica que o foco mudou porque os motoristas não viram suas reivindicações atendidas pelo governo após as negociações de março e abril. “Os caminhoneiros acordaram e vão acordar o País também. Não estamos mais fazendo paralisação por nós, agora é pelo Brasil. A nossa principal reivindicação é a saída da Dilma e de todos os seus subordinados”, afirma em um vídeo postado na rede social.

Segundo Schmidt, depois que estiver estabelecido um novo governo, o movimento vai apresentar novamente a sua pauta de reivindicações, que será similar à anterior, mas pode ter acréscimos. Alguns pontos já defendidos são a redução do preço do óleo diesel, a criação e o cumprimento da tabela do preço mínimo do frete e a carência de 12 meses para quem tem financiamento de caminhões concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Litti concorda que as conversas com o governo federal não estão avançando como deveriam. “Tem muitas questões que justificam uma parada dos caminhoneiros, mas não esta pauta de derrubada da Dilma”, falou.

O Comando Nacional do Transporte admite ter uma proximidade com grupos contrários à presidente, como o Vem Pra Rua e o Revoltados On Line. A paralisação dos caminhoneiros autônomos, que está prevista para começar na segunda-feira, está sendo organizada principalmente por meio das redes sociais e do WhatsApp. A expectativa é ter uma alta adesão no País inteiro.

Repercussão

No início do ano, a greve dos caminhoneiros interrompeu o tráfego em diversos pontos de rodovias federais e estaduais por muitos dias, o que prejudicou o transporte de cargas e motivou ações na justiça na tentativa de retomar o fluxo normal de veículos nas estradas.

Mesmo antes do início da nova paralisação, entidades já se posicionam sobre o assunto. Conforme o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), as manifestações podem causar novamente prejuízos para o setor de produtos de origem animal no Rio Grande do Sul.

O Fundo alerta que, na mobilização do começo do ano, o abastecimento de milho para ração foi o primeiro a ser atingido. Com isso, muitos animais entraram em risco alimentar e passaram por problemas sanitários. O presidente do Fundesa, Rogério Kerber, afirma que o setor de suínos, por exemplo, levou quatro meses para ter o fluxo de produção normalizado após a greve de fevereiro.

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