Questionado sobre uma eventual mudança no regime de metas de inflação do parâmetro anual usado atualmente para um horizonte móvel, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Abry Guillen, respondeu nesta segunda-feira, 5, que o regime de metas já funciona bem no Brasil. "O atual no modelo nos serve bem, nos ajuda a ancorar expectativas e controlar a inflação. Um segundo ponto é que uma mudança no modelo não deve impactar como a política monetária é conduzida. Se isso acontecer, pode afetar a credibilidade tanto do regime, como da atuação da política monetária", acrescentou, em palestra na 14ª Edição do Bradesco BBI London Conference.
O diretor admitiu que a meta calendário adiciona mais sazonalidade no debate e considerou que isso não é o ótimo. Mas ele lembrou que o Copom sempre enfatiza em suas comunicações qual é o horizonte relevante de suas decisões. "Acho que há uma confusão entre o horizonte de atingimento de meta e o período de verificação da meta. No final, o importante é horizonte relevante de política monetária", argumentou. "Esse horizonte depende do tipo de choque e deve ser flexível", concluiu.
Guillen ainda valorizou o instrumento da carta aberta ao fim do ano sempre que a meta de inflação não é atingida. "Eu gosto da carta de justificativa", afirmou.
<b>Boa notícia</b>
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que há boas notícias na inflação na margem em alimentos e bens industriais. "Há um sinal bom de atacado, mas o quanto isso será repassado para o mercado consumidor ainda é debatido. Em bens industriais, há ajuda do atacado e da normalização de cadeias. Mas alimentos e bens industriais têm menos inércia que serviços", ponderou.
Ele lembrou que as expectativas de inflação para 2024 ainda estão acima de 4,00%, e acima da meta – cujo centro para o próximo ano é de 3,00%.
Citou também os efeitos do debate fiscal sobre a alta das expectativas de inflação, bem como as discussões sobre o nível das metas dos próximos anos.
<b>Serviços e núcleos</b>
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que a instituição segue atenta à dinâmica de inflação e de núcleos. "Estamos olhando para a inflação de serviços e núcleos e vendo o que é preciso para levar a inflação para as metas. Olhar a inflação de serviços nos ajuda a medir o hiato do produto", afirmou.
<b>Atividade</b>
Guillen disse que o BC enxerga alguma desaceleração na atividade doméstica, mas com resiliência. Segundo ele, há alguns ruídos nos dados de atividade no Brasil. "A surpresa do PIB do primeiro trimestre foi principalmente em agricultura", destacou o diretor. "As pessoas estão citando a política fiscal, o juro neutro e o desempenho do agro como fatores para surpresa no PIB", completou.
<b>Emprego</b>
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse também que o mercado de trabalho está mais resiliente que o esperado e destacou que a dinâmica do emprego formal chama a atenção. "O desemprego está estável nos últimos meses, mas muito aquém do pré-pandemia", afirmou.
Guillen destacou ainda que os benefícios sociais cresceram no último ano, enquanto os salários avançaram na margem. "A queda da taxa de participação no Brasil pode estar relacionada a benefícios sociais", avaliou.
Segundo ele, o BC não enxerga eventuais disfuncionalidades no mercado de capitais derivadas de eventos de grandes empresas. Neste ano, um destes eventos foi o caso das Lojas Americanas, empresa que entrou em recuperação judicial depois de anunciar que sua dívida era maior que a anteriormente divulgada.
<b>Dívida das famílias</b>
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse também que a desaceleração de crédito veio em linha com o esperado, com mudança no mix entre modalidades de financiamentos.
"As famílias estão mais endividadas que firmas neste ciclo. Por isso, o aperto de crédito vai afetar mais o consumo. Não tenho uma resposta quantitativas, mas é algo que temos que manter em vista", afirmou o representante do BC, na palestra na 14ª Edição do Bradesco BBI London Conference.