Entrevista: Stephen Ryan, porta-voz ucraniano do Comitê Internacional da Cruz Vermelha
<b>Quais as necessidades dos civis?</b>
No leste da Ucrânia, as pessoas precisam de assistência direta. Precisamos estar ali para fornecer comida, água, medicamentos e assistência médica. No oeste, para onde muitos fugiram, temos de agilizar os programas de ajuda porque muitos fugiram apenas com uma mala e a roupa do corpo.
<b>Como está a retirada de civis das áreas de risco?</b>
Nosso papel é atuar como um intermediário neutro, com garantia de segurança. Isso é difícil no atual contexto. Nos últimos dez dias, temos tentado entrar em Mariupol, mas é difícil passar pelos postos de segurança. Chegamos a 20 quilômetros da cidade, mas a segurança no terreno não permitiu que entrássemos. Mas conseguimos ajudar 500 pessoas que já haviam saído de lá.
<b>Como está Mariupol?</b>
Os que saíram relatam que a situação humanitária é apocalíptica, que a cidade está morta. As pessoas não têm acesso a comida, água, energia e aquecimento. A Cruz Vermelha continua pedindo acesso à cidade para fornecer ajuda aos civis.
<b>Como vocês dialogam com as partes envolvidas?</b>
O CICV tem um longo histórico em conflitos e sempre nos envolvemos com as duas partes de forma objetiva, para garantir que os civis sejam poupados. Conversamos com os dois lados. As guerras têm regras e a lei humanitária internacional deve ser respeitada.
<b>Como está a situação das crianças?</b>
Um colega que esteve perto de Mariupol me contou sobre uma menina de 14 anos, cujos pais estavam presos na cidade. Ela viajou no comboio da Cruz Vermelha para encontrar o irmão em Zaporizhia. Isso ilustra os desafios das crianças no conflito. Estamos lutando para dar assistência psicológica a elas.
<b>E dos idosos?</b>
Em muitos locais tomados pelos combates, eles não conseguiram fugir. Muitos escolheram ficar na cidade ou não conseguiram deixar o local. Essa é mais uma preocupação nossa.
<b>É possível descrever o que de pior vocês viram?</b>
A cada dia que estou aqui com meus colegas temos novos desafios. Escutamos histórias devastadoras sobre o impacto do conflito nas cidades, nas famílias, que não têm ideia de como será seu futuro. A cada dia vemos a devastação que um conflito tem no futuro das pessoas. O mais difícil é ver a esperança se acabando para as pessoas que assistem à destruição.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>