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‘Sniper Americano’ mira a angústia de um atirador de elite

Um tanque de guerra invade a tela do cinema. Ianques camuflados avançam por uma cidade em ruínas no Iraque e na mira de um atirador de elite está uma criança que recebe granada de uma mulher. O atirador precisa decidir se dispara ou não contra a criança. Suspense. Dedo no gatilho. Corta para um flashback.

Desde a cena de abertura de American Sniper, de Clint Eastwood, que tem previsão de estreia no dia 19, a constante tensão dá o tom de seu novo filme, indicado para o Oscar em seis categorias – filme, ator, roteiro adaptado, edição, edição de som e mixagem de som. Embora seja um relato de guerra, há um claro esforço para que nem todo conflito esteja no campo de batalha.

Não é a primeira incursão do cineasta por filmes de guerra. Em 2006, o diretor se voltou para a Segunda Guerra Mundial em dois longas – A Conquista da Honra, que fixa sua atenção no lado norte-americano do conflito, e Cartas para Iwo Jima, que abre espaço para a vivência e o espírito de honra dos japoneses
Adaptado da autobiografia de Chris Kyle (interpretado por Bradley Cooper), o atirador de elite mais letal da história do exército americano, o filme explora os dilemas e danos psicológicos enfrentados pelos que vivem a guerra.
Para isso, Eastwood confia especialmente na atuação de seu protagonista – que também é um dos produtores do longa.

“Não é absolutamente um filme político. A esperança é de que as pessoas possam de alguma forma ter seus olhos abertos sobre os esforços de um soldado em oposição às especificidades da guerra”, disse o roteirista Jason Hall em entrevista coletiva em NY. “Foi um roteiro difícil de escrever. Encontrei com Chris Kyle em 2010. Bradley e eu trabalhamos com ele no primeiro script e estávamos em contato constante. Falei para ele que estava entregando o roteiro aos produtores e no dia seguinte ele foi morto.”

O herói do filme, que sobreviveu a quatro perigosas idas ao Iraque, foi ironicamente assassinado no Texas por um veterano de guerra, a quem tentava ajudar em 2013.

A equipe, que já havia começado a trabalhar no filme, contou com o apoio total e irrestrito de Taya Kyle, a viúva do militar. “Ela abriu sua vida e nós não tivemos de criar nada com a imaginação”, afirmou Bradley Cooper, que recebeu um vasto material para compor seu personagem, de e-mails íntimos a vídeos caseiros do casal. Assim, foi possível ver como o herói de guerra se comportava. Além disso, todo o material doméstico permitiu a abordagem que vai além do drama da guerra e mergulha na esfera pessoal.

Como o estudo de um personagem, a expressiva transformação de Cooper em Chris Kyle é um dos pontos altos do filme. Assim como o entrosamento do par romântico que faz com Sienna Miller.

Ao escolher retratar o quão terrível é uma guerra, Clint Eastwood aborda um tema recorrente em seus personagens: ter de fazer o que é preciso ser feito e aguentar o peso das consequências. E o faz de modo também familiar, usando a linguagem western com a qual dialoga desde o início de sua carreira.

Nas idas e vindas do soldado ao Iraque, há a clara caça ao inimigo, as armadilhas, a tempestade que embaça a visão e a figura do atirador da marinha rápido e preciso. Acrescente rifles, tanques e armas de guerra e temos um bangue-bangue com proporções bélicas.

Na condução da jornada do herói, que de caubói de rodeio no Texas se transforma no sniper americano mais temido do Iraque, Eastwood conta com o apoio de parceiros de longa data – a edição precisa é assinada por Joel Cox (ganhador do Oscar de edição em outro filme de Eastwood, Os Imperdoáveis, de 1992) e a direção de fotografia é de Tom Stern, outro colaborador assíduo do diretor.
O veterano cineasta, que completa 85 anos em dia 31 de maio, presta tributo aos veteranos de guerra de seu país. O resultado é uma história bem contada, mas ideologicamente comprometida com a causa dos que defendem vigorosamente as intervenções militares dos EUA. É só lembrar o polêmico discurso na convenção republicana de 2012, na qual o diretor conversa com uma cadeira, fingindo estar dialogando com o presidente Barack Obama. Para o bem e para o mal, é Clint Eastwood sendo Clint Eastwood. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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