Abandonando a tradicional posição do Brasil em votações sobre o conflito israelo-palestino, o Itamaraty votou ao lado de Israel e dos Estados Unidos em uma resolução na ONU. O voto ocorreu na noite de quinta-feira, 6, e era uma iniciativa americana para condenar o Hamas por disparar mísseis contra Israel. A resolução não passou na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Para que fosse aprovada, ela precisaria de dois terços dos votos. Mas conseguiu 87 apoios, contra 57 países que rejeitaram a resolução, além de 33 abstenções. Nikki Haley, a embaixadora americana, era a principal promotora do texto que seria o primeiro a condenar o Hamas, se fosse aprovado.
Sua derrota, porém, foi considerada pelo Hamas como um “golpe” contra o governo de Donald Trump. Nas redes sociais, seu porta-voz, Sami Zahri, indicou que o resultado “confirma a legitimidade nossa resistência”. Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, ainda assim comemorou, indicando que essa havia sido a primeira vez que tantos países saíram ao apoio de seus interesses.
O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, disse que a resolução apenas foi derrotada por conta de uma mudança no processo de votação. Momentos antes do voto, foi estabelecido que seriam necessários dois terços de apoio para que o texto fosse aprovado.
Haley não poupou críticas à manobra, acusou governos de estarem apoiando o terrorismo e alertou que a mudança no voto tinha “como única finalidade impedir a aprovação da resolução”.
Nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro insinuou que a mudança no voto brasileiro já era o resultado da visão do novo governo e do chanceler Ernesto Araujo. “Foi a primeira vez que o Brasil votou a favor de Israel contra grupos terroristas”, escreveu o filho do presidente eleito. Na mensagem, ele manda seus “parabéns” para Haley, ao Itamaraty e a Araujo. “O Brasil vai deixar de ser um anão diplomático”, escreveu, numa referência a uma crítica que o governo israelense havia lançado contra o Brasil há poucos anos. Argentina, Uruguai e Chile também votaram a favor do texto.
Tradicionalmente, o Brasil optava por um apoio aos palestinos ou, em alguns casos, pela abstenção. O argumento era de que o governo agia conforme o “direito internacional”. A postura prevaleceu nos governos de José Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e, até ontem, na gestão de Michel Temer.
Mesmo em dezembro de 2017, o governo Temer foi um dos 128 países que apoiou uma resolução na ONU condenando a decisão de Donald Trump de transladar sua capital em Israel para Jerusalém. Segundo o texto aprovado, uma decisão de qualquer governo questionando o status da cidade deve ser considera como “nula e inválida”.
Já em outras resoluções apresentadas por Israel sobre outros assuntos como tecnologia e desenvolvimento, porém, o Brasil já havia apoiado o governo de Tel Aviv na ONU. Considerado como uma entidade terrorista por europeus e americanos, o Hamas emitiu um alerta ao governo brasileiro quando foi anunciado que Bolsonaro pretende mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
Nas redes sociais, o grupo Hamas, que está no poder em Gaza e é acusado de radicalismo, deixou claro que não vê com bons olhos a decisão do Brasil. “Rejeitamos a decisão do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, de mover a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém e pedimos que ele abandone sua decisão”, declarou o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri. Para ele, a iniciativa é um “passo hostil ao povo palestino”.