Após deixarem o palco do extinto Via Funchal, em São Paulo, os integrantes do NX Zero dividiam-se entre cumprimentos e gritos de entusiasmo após encerrarem a gravação do CD e DVD MTV Ao Vivo – 5 Bandas de Rock. Comemoravam como recém-saídos da adolescência que eram, com seus 20 e poucos anos. O registro, lançado em maio de 2007, três meses depois daquela noite, escancarou a última geração de bandas saídas do underground a chegar às rádios e ao mainstream com alguma relevância. NX Zero era acompanhado por Fresno, Forfun, Moptop e Hateen naquela leva registrada ao vivo.
Daquelas “cinco bandas de rock”, pouco sobrou. As cariocas Moptop e, mais recentemente, Forfun chegaram ao fim. O Hateen, veterano já naquela época, ainda se mantém na ativa, prepara um novo álbum, mas já está longe da máquina fonográfica – se é que existe, hoje, algo para se chamar de máquina.
Fresno comemorou 15 anos com um disco ao vivo lançado neste ano e seu vocalista, Lucas Silveira, lança o livro autobiográfico Eu Não Sei Lidar. O NX Zero, por fim, superou uma dita crise de identidade e pessoal e lança, no próximo mês, Norte (Deck), um novo disco de inéditas que injetou nova energia no quinteto, que já se aproxima dos 30 anos.
Ao longo de pouco mais de uma hora e meia em que a banda esteve com a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, entre poses para fotografia e entrevista, realizadas em uma vila no Jardins, a idade dos integrantes, todos com 29, com exceção do vocalista Diego Ferrero (mais conhecido como Di Ferrero), o único trintão do grupo, se fazia presente – mesmo quando não verbalmente.
A ideia de deixar o selo que os lançou (a multinacional Universal Music) representa uma busca pela identidade da banda diluída ao longo dos anos. Uma resposta natural a uma maturidade bem-vinda a qualquer um que se aproxima da terceira década de vida. Em fevereiro de 2014, excluíram-se do mundo em Juqueí, no município de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. “Fomos lá para gravar, compor, nos entender em vários sentidos”, conta Ferrero. “Foi a primeira vez que fizemos isso. Avisamos as pessoas: Estamos indo. Era uma saída de emergência”, completa Daniel Weksler, baterista.
Sentar à mesa com os cinco integrantes é como estar diante de uma grande família, daquelas que os irmãos falam ao mesmo tempo, completam as frases uns os outros e não têm medo de dar suas próprias opiniões.
É unanimidade entre os cinco de que continuar no moto-contínuo da banda iniciado na explosão daquele movimento – genericamente chamado de “emocore” – traria o fim dela. Era preciso mudar. “Vínhamos em um ciclo de quase 10 anos, de composição, de tudo, acabou se tornando algo cíclico para a gente, artisticamente falando”, analisa Conrado Grandino, baixista da banda. “Isso começou a prejudicar a gente, de certa forma. Ir à praia era um desprendimento, uma forma de ficar feliz entre a gente e com o que a gente faz”, completou.
O EP Estamos no Começo de Algo Muito Bom, Não Precisa Ter Nome Não, lançado em 2014 com quatro músicas, foi um primeiro passo adiante nesse plano, completado agora com Norte, sexto trabalho de estúdio do grupo. A música Meu Bem, primeiro single, não foi escolhida por acaso. Foi ela que, surgida no período praiano, deu início ao álbum cheio. Nas sessões de improviso, conta o guitarrista Filipe Ricardo, “a gente começou a ter vontade de fazer o disco”.
“O Diego havia falado que chegar aos 28 anos é uma mudança muito grande. E vai até os 30”, disse Gee Rocha, também guitarrista. “Estamos nessa mudança, não falaria em amadurecimento, mas diria que estamos em uma fase de transição, numa época muito boa”, completa. Transição é a palavra certa, uma caminhada entre a juventude e vida adulta – e toda a seriedade pode ser jogada fora quando, enfim, eles põem as mãos no novo disco pela primeira vez. Voltam a ser garotões eufóricos, como naquela noite de 2007. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.