A Prefeitura de Guarulhos homenageou as histórias de quase 300 sobreviventes de violência doméstica nesta terça-feira (29), em uma celebração dos cinco anos da Patrulha Maria da Penha, equipe fiscalizadora de medidas protetivas da Guarda Civil Municipal (GCM). A emoção tomou conta do auditório do Paço Municipal, no Jardim Bom Clima, onde cerca de 150 pessoas ouviram relatos de vítimas e de agentes que as protegem.
Em cinco anos a patrulha realizou mais de 12 mil atendimentos e 40 prisões de agressores que descumpriram medidas protetivas. Para isso, a ronda 24 horas cumpre diariamente um trajeto que contempla os endereços que fazem parte das rotinas das vítimas. Uma das paradas é na casa de Júlia*, servidora municipal que sobreviveu a uma tentativa de feminicídio.
A história de Júlia com a GCM começou após o ex-marido, inconformado com o fim do relacionamento e as denúncias de violência doméstica, invadir sua residência e a golpear com uma garrafa, atentado que gerou 38 pontos de sutura no corpo da vítima. Pouco tempo depois o agressor voltou a procurá-la em seu bairro. Ele portava uma faca e ameaçava “terminar o que começou”. Acionado, o patrulhamento rapidamente prendeu-o em flagrante.
Emocionada à frente do público, a sobrevivente de tentativa de feminicídio agradeceu aos guardas, a quem chama de anjos. “Eu nunca fui tão abraçada antes. Às vezes coloco uma blusa para esconder as cicatrizes. Um dia uma das meninas da patrulha me disse ‘não tenha vergonha. Quando alguém perguntar o que foi isso, responda que é uma sobrevivente’. E é isso que eu sou”, relatou Júlia.
O carinho pelo serviço especializado é compartilhado por Larissa*, que tem seus filhos menores de idade protegidos pela Lei Maria da Penha após abusos sexuais cometidos pelo ex-padrasto. “Eles me acolheram como se fosse uma família, me ajudaram muito emocional, física e materialmente. Eu me sinto abraçada, tenho vocês como uma família”, agradeceu a mãe das vítimas.
“É uma nova vida, a minha paz não tem preço”
Maria* é outra sobrevivente assistida pela Patrulha Maria da Penha em processo de superação. Em vídeo, a mulher de 32 anos contou que há oito meses ela e seus quatro filhos contam com o apoio da GCM para se livrar dos traumas do relacionamento abusivo de quase cinco anos com o ex-marido.
As juras de amor durante o namoro fizeram com que Maria desse uma chance a um novo casamento após uma decepção amorosa. Após apenas dois meses dividindo a mesma casa, iniciaram as agressões físicas e psicológicas. A vítima relata que era ofendida com palavrões e agredida com empurrões, socos e cuspes. Ela chegou a ser trancada no quarto sem acesso a comida, bebida e contato externo.
Maria recorda de momentos em que temeu por sua vida e a de suas crianças. “Ele me empurrou na parede e um prego me perfurou. Quando pedi para irmos ao médico ele me deu um soco tão forte que desmaiei. Ao acordar ele havia costurado sozinho o machucado, apenas para que não houvesse a possibilidade de irmos ao médico e eu denunciar”, recordou a vítima, que superou uma tristeza profunda para viver uma nova fase com o apoio dos filhos e da GCM.
Devido à insistência do autor, que seguiu perseguindo a ex-mulher, a Patrulha Maria da Penha ajudou-a a trocar de número de telefone e a apoiou na mudança de residência. Constantemente a equipe a visita em sua casa para garantir a distância do agressor e fornecer aconselhamento. Atualmente Maria está estudando, fortaleceu sua relação com os filhos e recuperou a autoestima. “O dia podia estar lindo, mas para mim estava preto e branco. Agora não, a minha vida mudou da água para o vinho”, relatou.
Denuncie a violência doméstica
Para denunciar violência doméstica e obter informações quanto à assistência da Patrulha Maria da Penha, ligue para a Central de Atendimento à Mulher (180) ou para a GCM pelo telefone 153. Quanto à necessidade de acompanhamento psicossocial e orientação jurídica, contate o Centro de Referência de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência Doméstica em Guarulhos pelo telefone 2469-1001.
*Nomes fictícios para preservar as identidades das vítimas