A vice-primeira-ministra da Espanha, Carmen Calvo, afirmou nesta segunda-feira, 29, que depois de analisar os resultados da eleição parlamentar da véspera, a primeira opção do Partido Socialista Trabalhista Espanhol (PSOE), do premiê Pedro Sánchez, é um governo de minoria sem unir-se a outra formação em uma coalizão.
“(Temos deputados) mais do que suficientes para ser o timão deste barco que tem que seguir seu rumo”, disse Carmen, em entrevista à emissora de rádio Cadena SER, lembrando que quando assumiu o governo, em julho, o PSOE tinha apenas 84 deputados – e, agora, aumentou sua bancada para 123 representantes.
“Acreditamos que podemos avançar neste formato que iniciamos. E vamos tentar (seguir sem uma coalizão) porque acreditamos como partido e como governo que, em um período muito pequeno, as pessoas nos entenderam muito bem. Somos o socialismo que gosta de governar para mudar as coisas”, completou.
Os socialistas espanhóis também destacaram o sucesso da gestão socialista do vizinho Portugal, onde um governo de minoria tem um acordo com outros partidos de centro-esquerda que o apoia frequentemente nas votações no Parlamento.
Para especialistas, no entanto, ainda é cedo para dizer que o PSOE conseguirá colocar em prática esse plano e se manter no poder nos próximos quatro anos sem formar uma coalizão que lhe dê a maioria no Legislativo.
“Se o partido socialista quiser permanecer no poder nos próximos quatro anos, deve encontrar mecanismos de acomodação que garantam um certo grau de estabilidade”, afirmou Andrew Dowling, especialista em política espanhola contemporânea na Universidade de Cardiff, no País de Gales. Para Dowling, pode demorar semanas ou até meses para que o cenário político espanhol seja totalmente definido.
O PSOE conquistou 123 das 350 cadeiras na Câmara dos Deputados – são necessárias 176 para ter maioria. Mesmo em uma coalizão com o partido de esquerda Podemos, o que parece pouco provável dadas as exigências da legenda, os socialistas ainda precisariam de mais 11 deputados para ter a maioria no Legislativo.
Negociações
Grande parte da incerteza em relação ao futuro governo espanhol é consequência de como as correntes políticas no país se fragmentaram nos últimos anos, depois de décadas em que o Partido Socialista e o conservador Partido Popular se revezaram no poder.
Forjar alianças entre partidos tem sido difícil para os negociadores e tem tornado instáveis os governos espanhóis. Em 2015, o resultado de uma eleição parlamentar fragmentada levou a negociações inconclusivas e a repetição da votação no ano seguinte.
“O país sofreu uma quantidade excessiva de instabilidade (nos últimos anos)”, escreveu o jornal La Vanguardia em seu editorial nesta segunda. “Isso nunca é bom. E é ainda pior quando a União Europeia tem o mesmo problema, devido ao Brexit e à ascensão do populismo.” Fonte: Associated Press.