Partiu de bancos credores a proposta de novos aportes na Sete Brasil, empresa criada para administrar as sondas da Petrobras no pré-sal. Esses bancos liberaram à empresa empréstimos-ponte de R$ 12 bilhões como alternativa ao financiamento de longo prazo que está emperrado no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A reportagem apurou que os sócios da Sete Brasil ainda não receberam o comunicado oficial da proposta de injeção de mais recursos próprios, mas já se mostram refratários à ideia, tendo em vista que a Petrobras deve reduzir pela metade a encomenda de 28 sondas à companhia.
A petroleira estatal, a Sete e os bancos credores (Banco do Brasil, Itaú BBA, Bradesco, Caixa, Santander e Standard Chartered) negociam qual a capacidade de financiamento do projeto para, em seguida, chamar os acionistas e propor mais injeção de capital. Do total de US$ 25,7 bilhões necessários para a construção das 29 sondas (das quais somente uma não é endereçada à Petrobras), 75% são de recursos oriundos de financiamentos.
Desde o plano original de concepção da Sete, ficou decidido que os acionistas aportariam R$ 8,3 bilhões e o restante seria obtido pelas linhas de crédito. O BNDES assegurou o desembolso de US$ 9,3 bilhões. No entanto, a primeira parte desses financiamentos – US$ 3,1 bilhões – foi aprovada pelo banco de fomento, mas os recursos não foram liberados porque o banco aumentou as exigências depois que a Sete Brasil passou a ser citada nos esquemas de corrupção da Petrobras, investigados na Operação Lava Jato.
O BNDES chegou a sugerir que os bancos credores dos empréstimos-ponte assumissem os riscos do financiamento, o que não foi aceito pelas instituições. O britânico Standard Chartered, que tem a menor participação no total dos empréstimo-ponte (US$ 250 milhões) entrou com o pedido para executar as garantias. O maior financiador dessas operações é o Banco do Brasil, com empréstimos superiores a R$ 3 bilhões. Bradesco, Itaú BBA e Santander teriam emprestado valores superiores a R$ 2 bilhões cada um e a Caixa, R$ 1,5 bilhão.
Acionistas ouvidos pela reportagem afirmam que só aportarão mais recursos na Sete se a Petrobras mantiver inalterado o pacote de sondas de perfuração em águas ultraprofundas contratado. Como o jornal O Estado de S.Paulo antecipou, o plano irá sofrer uma redução brusca, que deve atingir quase metade da encomenda planejada originalmente.
“Numa situação em que a quantidade de sondas fique muito pequena, só haveria recursos para gerar receitas com vistas a pagar os credores, sem nenhum retorno para os acionistas”, afirmou um dos acionistas, que preferiu não ser identificado. “A questão é: por que vamos colocar mais dinheiro nisso?”, completou. O tamanho de um novo aporte depende de quanto de financiamento a Sete vai conseguir: quanto mais capital dos sócios, menos retorno para eles.
A Sete dividiu a construção das sondas em três grupos, chamados tecnicamente de “batch”. O financiamento que está sendo barrado pelo BNDES refere-se ao primeiro lote, de nove sondas. A previsão inicial era de entrega em 2015 e 2016. O BNDES ficaria responsável por US$ 3,1 bilhões; a Caixa, por US$ 1,5 bilhão e o banco UK Export Finance, por US$ 220 milhões.
O segundo grupo tem 12 sondas e previsão de entrega para 2017 e 2018. Pelo projeto, o BNDES tem que desembolsar mais US$ 5 bilhões, o banco inglês que financia exportações mais US$ 580 milhões e outro US$ 1 bilhão de duas instituições norueguesas. Juntando as duas etapas, o BNDES deve financiar a Sete em mais de US$ 8 bilhões. O terceiro grupo, com oito sondas para entrega em 2019 e 2020, deve ser financiado em R$ 10,3 bilhões pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM).
Oficialmente, os sócios da Sete Brasil não se pronunciam, apenas os executivos da companhia. Em nota, a empresa afirmou que seus acionistas e parceiros trabalham com estudos de todos os cenários, mas não há nada acordado no sentido de novas capitalizações.
A Sete afirmou que trabalha “diuturnamente” para concluir a contratação de linha de crédito de longo prazo do BNDES. “A atual direção da Sete Brasil acredita e afirma categoricamente que o projeto de construção das sondas representa um fundamental marco para a indústria naval nacional e para o desenvolvimento do País e este projeto está mantido”, afirmou a empresa, em nota. A companhia ressaltou que a construção das sondas é “imprescindível” para retenção de tecnologia no Brasil.