Depois de tirar das costas o peso de 23 anos sem um título, logo depois da histórica conquista de 1977, quando derrotou a Ponte Preta, no Morumbi, e sagrou-se campeão paulista, o Corinthians começou a colecionar uma história de títulos. E o segundo desta série veio em dois anos, com um time novo, que tinha como camisa 8 um jogador diferente de tudo que havia se apresentado ao mundo até ali.
No meio de campo, aparecia o Doutor Sócrates, logo apelidado de Magrão pelos companheiros de time. Paraense de nascimento, veio de Ribeirão Preto, onde se formou em Medicina e defendia o Botafogo. Não demorou para cair nas graças da torcida, graças à genialidade que demonstrava dentro – e fora – das quatro linhas.
Os toques de calcanhar rapidamente se tornaram marca registrada daquele que foi o mentor da Democracia Corinthiana e é um dos maiores jogadores da história do clube do Parque São Jorge. Nem tanto pelos 172 gols marcados mas principalmente por ser reconhecido como um jogador de muita técnica, classe e de uma inteligência incomparável. Além do Paulista de 1979, Sócrates comandou o Corinthians no bicampeonato de 1982 e 1983.
Em 1982, compôs o meio de campo de uma das melhores seleções brasileiras que já disputaram uma Copa do Mundo. Na Espanha, ao lado de Zico e Falcão, desfilou um futebol-arte incomparável. Que caiu – inexplicavelmente – diante da Itália, de Paolo Rossi, em um dia que a Nação chorou de verdade. Muito mais que neste domingo, quando a morte de Sócrates foi anunciada, em decorrência de infecção generalizada, devido à sua saúde mais do que debilitada. O Doutor nunca escondeu de ninguém seu apego a bebidas alcoólicas, sobretudo uma cervejinha gelada, uma companheira quase que inseparável, ao lado do cigarro, mesmo no auge de seus tempos de atleta.
Tentou mais uma vez conquistar a Copa do Mundo, em 1986, no México. Porém, de novo, o melhor time sucumbiu à França na cobrança de penalidades máximas. Sócrates, de novo, comandou o time treinado por Telê Santana. Se não emplacava com títulos, dava lições de democracia ao país pós-ditadura militar. Foi um dos líderes, entre os atletas, do movimento Diretas Já, que pedia eleições para presidente da República. Mais uma vez foi derrotado, assistindo uma disputa dessas somente em 1989, já com a abertura política consolidada.
No Corinthians, foi o responsável pelo movimento conhecido como Democracia Corinthiana, um regime interno onde todos, do presidente ao roupeiro, tinham o mesmo peso nas decisões tomadas pelo clube.
Depois do Corinthians, foi para a Itália defender as cores da Fiorentina. De volta ao Brasil, jogou pelo Flamengo, do Rio de Janeiro, e Santos, antes de encerrar a carreira vestindo as cores de seu eterno Botafogo de Ribeirão Preto. A cidade, que assistiu Sócrates despertar para o futebol, foi palco do sepultamento do craque no último domingo. Por essas coincidências da vida, praticamente no mesmo horário, o Corinthians do Doutor se sagrava pentacampeão brasileiro, ao empatar em 0 a 0 com o arquirrival Palmeiras, no Pacaembu, em São Paulo.
Que tal chamar o novo estádio de Magrão?
A Revista Free São Paulo lança nesta semana a uma proposta que pode se tornar uma grande homenagem a um dos maiores ídolos da história do clube. O estádio do time, um dos sonhos do clube em vias de ser realizado, ainda não tem um nome definido. Até aqui, vem sendo chamado de Itaquerão, devido a sua localização no bairro da zona leste da Capital. Muitos já se referem a ele como Fielzão, uma alusão à torcida. Mas que tal batizá-lo de Magrão? Sim, dar ao estádio do Corinthians o nome oficial de Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. E de quebra, o apelido que mais marcou a carreira do Doutor: Magrão. Fica aqui a idéia e uma enquete que pode ser respondida no Facebook da Revista Free São Paulo.
Frases:
"O mundo reagiu à mudança do país. É muito melhor ouvir quem está de fora falar o que é o Brasil hoje. E temos uma chance única nos próximos seis ou sete anos de mostrar para o mundo todo quem é o brasileiro". (2009)
"Sempre lutei pelo voto direto e acredito ser esse o melhor meio de avaliação democrática. Respeita-se a alternância de poder, tão necessária, principalmente naqueles tempos de ditadura militar". (2010)
"Deus não tem idade. O Corinthians é muito maior que a idade que possa ter; é um símbolo, uma essência, um sentimento. É claro que o centenário tem um valor simbólico e as pessoas se reúnem em torno desse símbolo. Mas isso é secundário". (2010)