Opinião

Solução para falta dágua precisa extrapolar o óbvio

Não é novidade para ninguém que Guarulhos sofre de um crônico problema de falta d água, que atravessa décadas. Nenhum administrador que passou pelo Bom Clima até hoje conseguiu apresentar uma solução que pudesse dar à população algum alento. Algo do tipo: falta água atualmente mas já existe um planejamento que prevê o aumento de captação junto a diferentes fontes, mesmo que seja por meio da aquisição de outros municípios ou empresas como hoje ocorre.


 


Diferente disso, a resposta que o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), a autarquia municipal responsável pelo abastecimento dos mais de 1,2 milhão de habitantes que vivem na cidade, é padrão. Guarulhos sofre de um problema de déficit de água, ou seja, “tem baixa disponibilidade hídrica em decorrência de sua localização, em cabeceira de bacia”. Trata-se de uma definição padrão de quem não sabe o que fazer. Se se levar ao pé da letra a definição dos responsáveis, manda fechar a cidade, jogar a chave embaixo da porte e ir embora.


 


É possível, numa rápida interpretação, concluir que a população de Guarulhos não tem outra saída que não seja se acostumar a, cada dia mais, sofrer com a falta de água em suas torneiras. Se o órgão responsável diz que é assim mesmo, que a localização do município impede a captação, o que um mero cidadão pode fazer? Como não dá para sentar e fichar chorando, vendo o tempo passar, precisa exigir mudanças de atitudes por parte dos responsáveis.


 


Tudo bem que a água é um produto raro, que – com o passar dos anos – deve se tornar um produto cada vez mais escasso, que as pessoas precisam mudar de atitudes e passar a ter ações comportamentais voltadas à economia e ao reaproveitamento, como já ocorre com algumas empresas, até da água da chuva. Lógico que algumas práticas de sustentabilidade sempre serão bem vindas. Porém, há que se exigir do poder público algum projeto para sair desta inércia.


 


Guarulhos vive um momento de grande crescimento imobiliário. Inúmeros empreendimentos, principalmente edifícios com mais de dez andares e centenas de apartamentos, são construídos por toda a cidade. Óbvio que o consumo irá aumentar consideravelmente e em um prazo bastante curto. Urge que soluções sejam apresentadas. Apenas construir novos reservatórios, única ação efetiva da atual administração de pouco adianta. Precisa buscar alternativas para enchê-los de água.


Caso contrário, se persistirem as respostas padrão, seguidas da falta de planejamento e busca incessante de novas fontes, em muito pouco tempo Guarulhos padecerá sem água. Não se trata aqui de fazer qualquer afirmação alarmista ou mesmo pessimista. Diferente disso, clama-se que os responsáveis saiam dos discursos evasivos e apresentem caminhos.


 


Impressiona também o fato de o atual prefeito Sebastião Almeida (PT) já ter sido presidente do Saae, antes mesmo de se eleger deputado pela primeira vez, e sempre se apresentar como um estudioso das águas, chegando até a publicar um livreto  – “Água, um futuro incerto”, dando a entender que, ao chegar ao poder, faria do tema  uma de suas prioridades.  

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