Cidades

SOS Racismo em Guarulhos registra 18 denúncias formalizadas

Na esteira de reflexões possíveis e pertinentes ao mês da Consciência Negra, o GuarulhosWeb revela que o serviço de denúncias contra o racismo em Guarulhos registrou 18 casos de racismo desde sua criação, em maio de 2016, até novembro de 2017.
 
Segundo a Subsecretaria de Igualdade Racial, foram registrados e encaminhados dez casos em 2016 e oito em 2017 (até a publicação desta reportagem). “Registramos situações de injúria racial, racismo e intolerância religiosa, sendo que o primeiro [injúria racial] teve maior número [de denúncias]”. 
 
O baixo número de denúncias não revela a realidade do preconceito e racismo na cidade. Segundo a própria subscretaria, é notório o processo de invisibilidade das questões relativas à temática étnico-racial em Guarulhos. “É preciso trabalhar no sentido da afirmação da existência [muitas vezes negada] do racismo e na explicitação dos modos pelos quais ele se manifesta”, revela a pasta. 
 
A própria população negra da cidade descreve a realidade dos que vivem por aqui. “Tenho certeza de que esse número não é real ou não retrata a realidade. O preconceito aqui é tão doentio que as pessoas têm medo de denunciar. Eu mesmo conheci pessoas sofreram preconceito e não denunciaram porque têm medo”, conta Oswaldo Diniz Filho.
 
Conhecido por babalorixá (pai) Vadinho, Diniz Filho é geógrafo e professor. Ele conta uma das ocasiões em que sentiu e viveu o racismo ao visitar o túmulo da mãe, no cemitério da Vila Rio. 
 
“Fui abordado por um grupo de quatro pessoas que se diziam evangélicos. Eles me convidaram a ‘abrir o coração para Deus’. Falaram para eu sair dessa vida, pra eu me voltar para Jesus, pra eu deixar o diabo de lado. Tudo isso em cima do túmulo da minha mãe, que foi da minha religião”, conta pai Vadinho.
 
Ele usava as roupas de sua religião, com as cores e os colares que lembram o colorido e a cultura do continente africano. Ele não respondeu, não denunciou. Procurou o diálogo, mas os evangélicos não quiseram ouvir. “Nós estamos preparados para dialogar, para passar nossa cultura para aqueles que queiram ouvir. Eu não digo para ninguém que a minha crença é a correta, ela é boa para mim, e não imponho a minha religiosidade para ninguém”, disse o babalorixá.
 
Para ele, a falta de credibilidade das instituições em apurar os casos de racismo e o “racismo institucional” desses órgãos desencorajam qualquer denúncia. “Não denunciam por falta de informação [de que existe um meio de fazê-lo] e por ter certeza de que se você levar [a denúncia] a uma delegacia vai morrer ali. O pior racismo que existe aqui na cidade é o institucional, vem do poder público. Se ele nos pretere, imagine a sociedade”, desabafa.
 
Mais cultura – Para ele, a falta de educação e cultura são os grandes alimentadores do racismo na cidade e no país. “Falta conhecimento cultural e histórico. O problema é a cultura, porque existe espaço para todo mundo. A fé pode ser processada de várias maneiras, só que para que ela seja processada de uma maneira que não seja igual à minha eu preciso respeitar o outro”, disse o babalorixá, que milita nas causas do movimento negro e de direitos humanos há 30 anos.
 
A ialorixá (mãe) Clarice Cardoso Diniz afirmou da tribuna da Câmara Municipal, no dia 23, que Guarulhos é uma cidade racista e precisa tratar seus cidadãos com respeito, independentemente da cor, da raça, além de promover políticas públicas que respeitem todas as manifestações culturais e religiosas, sem distinção. 
 
A Subsecretaria de Igualdade Racial diz que, para além do atendimento direto por meio SOS Racismo, realiza ações preventivas de enfrentamento ao racismo com foco na área da educação. “É o campo privilegiado de construção de conhecimento, desconstrução de estereótipos, conscientização e construção de identidades raciais positivas”, avalia a pasta.
 
Alocada na Secretaria de Assuntos Difusos, a subsecretaria incentiva que as denúncias sejam feitas e salienta que os casos são identificados, investigados, penalizados e recebem intervenções para sua desconstrução e não perpetuação. 
 
“Há por parte desta nova gestão a preocupação em estruturar um sistema de referência e contrarreferência para o atendimento e encaminhamento dos casos, seja na atenção direta às vítimas como nos casos de denúncia, sendo primordial o fortalecimento da rede de atenção às vitimas de racismo, que dará a retaguarda ao serviço SOS”, explica a pasta.
 
Serviço SOS Racismo
Denúncias e atendimento direito ao público podem ser feitos de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, mediante agendamento prévio pelo telefone 2409-6843, ou através do [email protected]. O Centro de Referência da Igualdade Racial fica no CEU Ponte Alta, localizado na Rua Pernambuco, 836, Jd. Ponte Alta.
 

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