A identidade que assume a 14ª SP-Arte, um evento que agita todo o circuito da cidade e que amplia o modelo da feira de estandes individuais, é a de um festival, que agrega uma série de mostras paralelas e complementares. Ao todo, 25% do espaço do Pavilhão da Bienal, tradicionalmente ocupado pela feira, será dedicado a outras mostras e eventos complementares à estrutura tradicional.
Paralelamente aos nichos organizados pelas 164 galerias nacionais e internacionais que participam da edição deste ano, uma série de outras atrações promete ampliar o contato entre a arte e o público – estimado em mais de 30 mil pessoas. Dentre elas, destacam-se os projetos coordenados por curadores independentes, articulando significados, promovendo resgates e oferecendo ao público mais informação do que os estandes individuais das galerias costumam oferecer.
Além das mostras Solo e Repertório, que já estiveram presentes em edições anteriores do evento e que retornam este ano com grande peso, 2018 traz como grande novidade um núcleo dedicado à performance, gênero artístico cuja relação com o mercado é mais complexa e com o qual parte do público ainda não está familiarizada. Com curadoria assinada pela artista e pesquisadora Paula Garcia, esse segmento ganha um espaço inédito. Em vez de acontecer em corredores e rampas, nos interstícios da feira, ele ganha um espaço próprio de 220 metros quadrados. Os cinco artistas ou grupos convidados por Paula, que é colaboradora do Marina Abramovic Institute, não se contentarão em realizar intervenções esporádicas, com dia e hora marcados. Estarão em ação durante oito horas diárias, ao longo dos cinco dias de funcionamento do evento. A sala terá propositalmente um acesso estreito, de apenas 1,40 m, o que promete trazer um maior envolvimento dos espectadores com o ambiente.
“A ideia é colocar projetos performando no mesmo espaço, sem divisões. É um desafio”, explica Paula, acrescentando que ao final teremos quase uma exposição coletiva. “Aquilo vai virando um corpo só, mesmo sendo projetos bastante fortes”, acrescenta. Seu critério de escolha foi, além da qualidade dos projetos, a busca pela diversidade, tendo convidado artistas de diferentes formações e interesses, como o chefe de cozinha Gabriel Vidolin, o performer Paul Setúbal, a estilista Karlla Girotto e o grupo ativista Brechó Replay.
Segundo a diretora e fundadora da SP-Arte, Fernanda Feitosa, a criação de um segmento especial para a performance é resultado tanto da consolidação do projeto da feira, como do crescimento desse tipo de prática na cena artística.
“Fomos ganhando musculatura”, afirma ela. “No início, começamos com 41 galerias, só uma do exterior. Mesmo assim o caminho internacional já estava traçado”, relembra. Ao longo desses 14 anos, novos segmentos foram sendo criados e adaptados. Em 2005 nasceu o ciclo paralelo de palestras e debates, em 2011, o núcleo dedicado aos livros de artista, que este ano contará com mais de 30 lançamentos.
Outro ponto forte desses eventos paralelos (que contemplam visitas guiadas, palestras, lançamentos de publicações, mostras especiais de instituições como o Museu da Casa Brasileira, entre outras atividades) é a mostra Repertório. Ela ocorre pelo segundo ano, novamente com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti.
Com o objetivo duplo de apresentar ao público brasileiro a obra de artistas internacionais que ainda não tiveram seu trabalho devidamente reconhecido por aqui e de resgatar nomes da arte brasileira que acabaram por cair num certo esquecimento, essa exposição – de intensa vocação pedagógica – se assemelha a uma espécie de garimpo. O único critério é que as peças tenham sido produzidas até o final dos anos 1980. “Procurei apresentar propostas o mais plurais possíveis”, diz Crivelli, que este ano selecionou 13 projetos. A maioria deles (90%) contempla apenas um artista. Dentre os destaques nacionais podem-se mencionar os gaúchos Loio Percio e Ione Saldanha. Dentre as atrações internacionais está o francês Christian Boltanski, com trabalhos icônicos em que discute ausência e memória. A galeria espanhola Cayón também apresenta um interessante diálogo entre três mestres da cor: Josef Albers, Yves Klein e Fred Sandback.
Já a mostra Solo tem como foco central a produção contemporânea. “A ideia é dar ao público uma ideia melhor sobre a prática de um determinado artista”, explica Luiza Teixeira, que responde pela curadoria do segmento pelo terceiro ano consecutivo. Este ano serão 16 artistas. A curadora julga ter alcançado um bom equilíbrio entre representantes nacionais e internacionais. É nesta mostra paralela que a Rússia estreia na SP-Arte, com exposição dedicada ao trabalho de Ilya Fedotov-Fedorov.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.