O governador João Doria (PSDB) decidiu que o Estado vai para a fase vermelha na segunda, apesar de o centro de contingência, que reúne especialistas da saúde, ter recomendado em reunião na quinta-feira à noite que São Paulo continuasse na fase emergencial. A nova etapa do Plano São Paulo vai até o dia 19, como o Estadão adiantou.
Na prática, a principal mudança é a liberação de escolas públicas e particulares, limitadas a 35% de ocupação – a capital, por exemplo, vinculava o retorno à decisão de sexta-feira, 9. A orientação do secretário de Educação, Rossieli Soares, é para que o foco principal da reabertura esteja na educação infantil e nos alunos "que mais precisam", dentre os quais o Estado lista os com dificuldade de aprendizagem e de acesso à tecnologia, com necessidade de alimentação, com saúde mental sob risco e cujos pais trabalhem em serviços essenciais. Ele citou um estudo da Universidade de Zurich e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, de acordo com o qual a abertura de escolas paulistas não teria afetado o avanço da pandemia.
O governo ainda vai manter o toque de recolher entre as 20 horas e 5 horas. A vacinação dos professores também foi adiantada para hoje – e a de idosos com 67 anos, para o dia 12. Os bares e restaurantes poderão a voltar a realizar o take away, atividade em que os clientes retiram produtos no local. Mas ainda serão proibidos os cultos religiosos e recomendado o teletrabalho para escritórios.
As lojas de material de construção serão autorizadas a abrir. Já o restante do comércio, como shoppings, podem funcionar só com o drive-thru (entrega por automóveis) ou para delivery (compra online e entrega). Os clientes não podem circular dentro das lojas. Também ficam permitidos os campeonatos esportivos profissionais a partir das 20 horas, com testagens e protocolos sanitários, mas sem público.
A fase emergencial começou no Estado em 15 de março, dias depois de ser decretada a fase vermelha, porque houve piora nos números de casos, óbitos e lotação de UTIs. Nesta sexta-feira, o Estado registrou 1.008 mortes, chegando ao total de 81.750 vidas perdidas. No mesmo período, foram registrados 20.701 novos testes positivos, totalizando 2.618.067 pessoas infectadas durante a pandemia.
<b>Justificativa</b>
Números que mostram a desaceleração da ocupação de leitos de UTI, abaixo de 89%, justificariam a tese de integrantes do governo de que é hora de readequar o Plano SP. Segundo fontes oficiais, há a intenção de dar mais esperança e perspectiva para os setores fechados, como o comércio. Já os cientistas que colaboram nas decisões acreditam que os números são ainda altos demais para uma evolução e ela passaria uma mensagem à população de que já se pode relaxar.
"A medida tomada nesta manhã, em diálogo com o Centro de Contingência, mostra claramente que a fase emergencial começa a dar resultados", justificou o vice-governador Rodrigo Garcia. De acordo com Paulo Menezes, coordenador do Centro, a projeção do governo estadual é a de que algumas regiões possam ir para a fase laranja, com abertura seletiva do comércio, a partir do fim do mês.
O secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, também destacou avanço nos índices. "Não significa que estamos saindo de um momento de emergência da pandemia", ressaltou.
A expectativa é de que a média de mortes diárias pela covid comece a diminuir a partir do próximo dia 15. "Não estamos entendendo isso como um relaxamento, mas como um avanço em relação às medidas da fase emergencial. Elas são tomadas com base nos dados, na ciência, mas principalmente nas projeções", afirmou Garcia.
Os índices utilizados por ele para fundamentar a ida à fase vermelha são o aumento da vacinação no Estado, que teve o envase da Coronavac temporariamente paralisado este mês; a ampliação de leitos de UTI, que mesmo após a abertura de 6,5 mil novas vagas nos últimos 90 dias se manteve com taxa de ocupação acima dos 90% no início desta semana, chegando ontem a 88,3%; e o aumento do isolamento social, que ainda na quarta-feira estava em apenas 44%, bem abaixo do ideal de 60% almejado pelo governo.
<b>Crítica</b>
Especialistas ouvidos pelo <b>Estadão</b> foram unânimes em rejeitar a decisão e afirmam que a pandemia ainda apresenta altos índices de internações, casos confirmados, óbitos e ocupação de leitos e as reduções apontadas pelo Centro de Contingência não passam de flutuações. "Foi uma medida incompreensível. Você ainda assiste a uma pressão muito grande sobre os serviços de saúde, então não tem sentido. Se a fase emergencial foi bem sucedida, por que os números não diminuem?", indaga Leonardo Weissmann, do Instituto Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Walter Cintra, professor de Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde da FGV, concorda com o colega. "Está mantido o toque de recolher, mas a sensação é de que ele não tem sido muito respeitado. Precisaríamos de medidas mais duras."
"Não é mais uma questão de saúde pública, mas funerária", alerta Domingos Alves, professor de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) avalia que a medida foi tomada com base na pressão pela reabertura.
"Atividades econômicas pesam bastante e não temos uma rede de apoio suficiente para manter o comércio funcionando com pessoas em casa, mas são os dois lados da moeda. Se flexibilizar mais cedo, temos mais casos. Se demoramos muito, impactamos a saúde econômica e a fome."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>