Aos 45 anos, Alexandre Herchcovitch se reinventou no comando da À La Garçonne, marca de seu marido Fábio Souza, que até outro dia vendia apenas móveis e objetos antigos restaurados. Juntos, Alexandre e Fábio fizeram um desfile pop, jovem, real e repleto de clássicos do estilo de rua. Tudo meio descolado, meio refinado. Trata-se de uma linha de criação que lá fora, em Paris e Milão, os críticos andam chamando de “streetwear couture”. Para entender o conceito, tenha em mente que a moda está celebrando o vestuário do cotidiano – calça jeans, camisa de algodão, moletom, tênis, jaquetas de sarja – ao lado de elementos bem mais sofisticados, com tecidos fluidos, modelagens elaboradas e acabamentos de primeira. “A mistura da renda com o camuflado é tudo de bom, é o suprassumo do chique descontraído”, diz o stylist Paulo Martinez, que assistia ao desfile o São Paulo Fashion Week no subsolo do Masp.
Para dar cara nova às peças de brechó, uma proposta da marca, o estilista convidou um pintor hiper-realista que decorou as paredes do hall de sua casa. A linha de jaquetas militares grandonas, folgadas, com pinturas decorativas feitas à mão foi o auge do desfile. Seguindo a mesma pegada urbana, estreou ontem fazendo barulho a marca LAB, dos rappers Emicida e Evandro Fióti. Foi um show.
Na passarela, as modelos plus size, cabelos black power e um homem com vitiligo davam o tom da diversidade, pregado pelos rappers. “Sou uma mistura de referências muito bagunçada”, diz Emicida. “Para a coleção, partimos da inspiração de um samurai negro, o Yasuke. Mas o rap está bem representado nas criações. A essência da marca é nóis.” Em parceria com o estilista João Pimenta, os músicos investiram em estampas gráficas, peças amplas e estruturadas, quimonos e casacos com ombreiras. A cartela de cores resumiu-se em preto, branco e vermelho.
Veterano, Reinaldo Lourenço fez um desfile de encher os olhos. Brincou com uma estampa folk florida, depois apresentou uma linha de alfaiataria super chique, na qual usou um tecido de gravataria. Seguiu as proporções da temporada, que encurta o comprimento da calça e infla o volume dos casacos. Falando assim, parece estranho, mas a combinação funciona em frente ao espelho. Engrandece a parte de cima da silhueta. Por fim, Reinaldo brilhou com uma linha de vestidos de tule com aplicações de couro, vazados em forma de pequenos losangos e faixas de cores fortes contrastando com preto. “É um luxo bem contemporâneo”, diz Daniela Falcão, diretora da revista Vogue. (Colaborou Anna Rombino)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.