A gigante chinesa State Grid, que atua no Brasil desde 2010, arrematou o maior lote ofertado no leilão de linhas de transmissão de energia elétrica promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta sexta-feira, 15, na Bolsa de Valores (B3), o maior já realizado no País. O lance vencedor prevê Receita Anual Permitida (RAP) de R$ 1,937 bilhão, o equivalente a um deságio de 39,9% em relação à RAP máxima estipulada pela Aneel.
O lote arrematado pela companhia chinesa prevê a construção de 1.468 quilômetros de linhas de transmissão em corrente contínua, atravessando três Estados – Maranhão, Tocantins e Goiás. O prazo para a execução do projeto é de 72 meses, o mais longo já concedido pela Aneel em razão do porte e da complexidade do empreendimento. E os investimentos previstos são estimados em R$ 18 bilhões.
O leilão terminou com um deságio médio de 40,85% e previsão de investimentos totais de R$ 21 bilhões nos três lotes. Além da State Grid, o consórcio Olympus XVI, formado pelas empresas Alupar e Mercury Investments, arrematou o lote 2, com um deságio de 47,01%, enquanto que o lote 3 ficou com a Celeo Redes Brasil, que desbancou a Eletrobras ao oferecer desconto de 42,39% na disputa em viva-voz.
O consórcio liderado pela Alupar se comprometeu com uma RAP de R$ 239,5 milhões para a construção e operação de 552 km de linhas de transmissão nos Estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. O projeto contempla a expansão das interligações regionais e da capacidade de intercâmbio de energia na região. O prazo para conclusão das obras é de 66 meses.
Por fim, a Celeo fez uma proposta de R$ 101,2 milhões pelo lote 3, com deságio de 42,39%. O projeto prevê a construção de 388 km de linhas de transmissão no Estado de São Paulo. O empreendimento, com prazo de 60 meses para ser concluído, ampliará as interligações regionais e a capacidade de intercâmbio de energia na região.
<b>Energia limpa</b>
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, considerou o leilão um sucesso, pois foram viabilizados projetos que permitirão novos investimentos em geração de energia renovável, a partir da ampliação da capacidade de escoamento de energia gerada no Nordeste até o principal centro de carga, no Sudeste. "Cumprimos com o propósito de contratar linhas de transmissão para reforçar os investimentos em energias limpas e renováveis – eólica, biomassa e solar – fazendo com que o Brasil se consolide ainda mais como grande protagonista da transição energética no mundo", disse o ministro.
O diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, destacou que a contratação de linhas de transmissão em corrente contínua pela tecnologia HVDC (alternativa para transmissão de grandes blocos de energia acima de 1,5 mil MW em distâncias superiores a mil quilômetros), como as do leilão de ontem, permitirão o desenvolvimento da cadeia do hidrogênio verde (H2V) no País, e também que a região Nordeste se torne uma nova fronteira da energia renovável.
Feitosa destacou ainda que o leilão de ontem, somado aos dois certames realizados anteriormente neste ano e ao que acontecerá em março de 2024, vão garantir a contratação de 17 mil quilômetros de novas linhas de transmissão, o correspondente a 10% da malha disponível no País atualmente. "Se no passado contratamos linhas de corrente contínua para integrar grandes hidrelétricas, hoje contratamos para coletar energia de eólicas e solar no Norte e Nordeste do Brasil", afirmou.
<b>"Responsável e exequível"</b>
Questionado sobre o lance vencedor no leilão de ontem, o vice-presidente da State Grid Brazil Holding, Ramon Haddad, disse que o deságio oferecido foi "responsável e exequível". "A gente tem certeza que esse foi o deságio possível e que conseguimos trabalhar, garantindo a implantação e manutenção deste terceiro sistema HVDC da State Grid no Brasil", disse depois do certame.
Hoje a State Grid detém no Brasil mais de 16 mil quilômetros em linhas de transmissão, seja em participação com outras empresas ou sozinha em projetos. São quase 30 mil torres espalhadas por 13 Estados brasileiros, com investimentos que somam R$ 28 bilhões.
Segundo o executivo, a State Grid tem uma proposta de longo prazo no setor elétrico brasileiro. Para fazer a oferta, explicou, a companhia considerou soluções mistas e usará tecnologias nacionais e estrangeiras, tecnologias de ponta e outras já tradicionais no mercado. A ideia, acrescentou, é trabalhar com a possibilidade de antecipar o prazo para conclusão das obras, de 72 meses, mas que não pode dar essa garantia por conta de eventuais dificuldades que podem surgir ao longo do processo.
Haddad informou ainda que a Sociedade de Propósito Específico (SPE) que será constituída para construção dos empreendimentos que compõem o projeto do lote 1 será 100% da companhia e que, portanto, caberá a ela obter o todo o financiamento necessário – a obra tem custo estimado de R$ 18 milhões. Por isso, desse o executivo, a companhia está verificando "tudo o que existe no mercado" para garantir o sucesso do projeto.
Questionado sobre eventuais parcerias, ele disse que os sócios da holding tem liberdade para negociar e que se estes movimentos ajudarem a companhia serão bem-vindos.
O Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ressaltou também que, diante do reforço no escoamento com a construção das novas linhas contratadas, a expectativa é que haja a atração de mais de R$ 200 bilhões em investimentos eólico, solar, biomassa e hidrogênio verde no Nordeste.
"O Brasil quer usar essa energia para reindustrializar o País, combatendo desigualdades ainda muito latentes na sociedade, através da geração de emprego e renda", disse.
Silveira lembrou ainda que, somado ao certame realizado em junho, foram mobilizados neste ano R$ 40 bilhões em novas linhas de transmissão. "Esses leilões, na verdade, estão atrasados, deveriam ter sido feitos há quatro ou cinco anos, mas são um passo fundamental para fazer do Brasil o grande protagonista da transição energética do mundo", concluiu.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>