A nova pista da Rodovia dos Tamoios para a subida da Serra do Mar, inaugurada no fim de março, impressiona pela tecnologia. O motorista tem à disposição serviço de wi-fi, telefones de emergência a cada 60 metros, megafones de alerta e iluminação no interior dos túneis regulada pelo sol na parte externa para que os olhos se acostumem à penumbra.
Geradores garantem o funcionamento de todo sistema, inclusive a iluminação dos túneis, mesmo que falte energia. O novo trecho, com 21,5 quilômetros, tem 12,5 km em túneis, entre eles o mais longo do Brasil, com 5.555 metros, e o segundo maior, com 3.675 metros.
A reportagem do <b>Estadão</b> percorreu a Tamoios, principal acesso às praias do litoral norte de São Paulo, na semana passada e encontrou alguns trechos ainda em obras, além de problemas pontuais na parte velha da rodovia. Mas a sensação ao subir a serra de carro é de conforto e segurança.
Não fosse pelos belos cenários da Serra do Mar e das praias que se descortinam ao longo da pista aberta, fora dos túneis, seria impossível sentir a escalada de 800 metros do início ao fim do trecho. Respeitando o limite de velocidade, de 80 km por hora – 60 km/h para caminhões – foram apenas 16 minutos de viagem.
A inclinação contínua de 5%, os longos túneis iluminados e as curvas amenas passam a impressão de se estar em uma autoestrada europeia. Motoristas que também fizeram o percurso aprovaram a nova estrada, considerada por eles moderna e segura.
"Ficou ótima, sem curvas, com velocidade contínua. Até me assustei com a rapidez para subir a serra. Acho até que poderia ter máxima de 100 por hora, pois é muito segura", disse Rodrigo Moura, de São José dos Campos. Segundo ele, apenas o acesso, em Caraguatatuba, está um pouco confuso. "Acredito que quando concluírem os contornos de Caraguá e São Sebastião essa interligação vai melhorar", disse.
O capoeirista Rodrigo Montanha, de Araçatuba, desceu na sexta-feira, 25, para Caraguatatuba, quando a nova pista de subida não tinha sido aberta. Ele gastou mais de meia hora de carro no trecho de serra, disputando espaço com os veículos que subiam, mesmo com a faixa adicional da operação descida. No retorno, na terça, 29, pegou a pista nova. "É como se a gente tivesse viajado no tempo, 20 ou 30 anos à frente. Não dá para comparar aquela estrada com curvas fechadas e declives fortes com esta, onde você quase só roda em túneis", disse.
O caminhoneiro Jacimar dos Santos Silva lamentou ter sido enganado pelo GPS do seu celular quando viajou para Ubatuba e Caraguatatuba, de manhã. "O aplicativo informou que a Tamoios estava em obras e me mandou seguir pela (rodovia) Oswaldo Cruz. Rodei duas horas a mais, pegando uma serra pior do que a Tamoios. Na volta, um colega me falou da nova Tamoios. É um pouco confuso o acesso em Caraguatatuba, mas a estrada está excelente", disse.
Para os motociclistas, a grande extensão dos túneis na nova Tamoios é um diferencial importante. "Para quem viaja de moto, os maiores problemas dessa serra, além das curvas, são a neblina, a chuva e o vento, que quase joga você no abismo. Nos túneis da pista nova praticamente não tem vento, nem chuva, é só calmaria", afirmou Ancelmo Ximenez Veiga, gerente do posto do alto da serra.
Morador de Caraguatatuba, ele vai de moto para o trabalho todo dia. "Gasto 25 minutos para descer o trecho de serra, mas agora subo em pouco mais de 10 minutos", disse.
Também motociclista, Jason Henrique, morador de Ilhabela, só não viu os radares de velocidade no interior do túnel. "A máxima é de 80 por hora, mas tinha carro e moto andando mais", observou.
Ele conta que também perdeu o sinal de wi-fi no interior do túnel. "Entendo que estamos em um período de testes nessa nova estrada e espero que logo esteja tudo perfeito. Viajo bastante e a serra sempre foi um problema, principalmente para quem usa moto. Para nós, motociclistas, a segurança aumentou muito."
A pista nova está funcionando no sistema de operação assistida, com passagem dos veículos entre 6 da manhã e 10 da noite, exceto nos fins de semana e feriados, quando funciona durante 24 horas. O objetivo, segundo a concessionária, é monitorar o funcionamento da tecnologia instalada na via, como wi-fi, câmeras de monitoramento e radares. Com isso, a pista antiga ainda é usada para subida e descida à noite, nos dias úteis, o que explica a presença da sinalização velha, como as faixas amarelas duplas, que indicam a proibição de ultrapassagem.
<b>Trecho é marcado por grandes túneis</b>
O novo trecho da Tamoios tem também 2,6 quilômetros de viadutos, um deles com 930 metros de extensão, mas os túneis são um capítulo à parte. O mais longo, aquele de 5,5 km, foi vazado com máquina tuneladora combinada com explosões, tendo sido usados 3 milhões de quilos de explosivos para escavar e retirar 1,7 milhão de m3 de rochas. Para sustentação das paredes, foram usados 80 mil m3 de concreto, quase um quarto do total consumido em todo trecho novo – 300 mil m3 de concreto.
Por se tratar de obra no interior do Parque Estadual da Serra do Mar, unidade de conservação estadual, a construtora Queiroz Galvão precisou instalar um teleférico para o transporte de trabalhadores, materiais e equipamentos. Ainda para evitar danos à mata, foi construída uma escada com 1.200 degraus e 420 m de altura para dar acesso ao emboque do túnel. Os três maiores têm um túnel de serviço perfurado ao lado, para ser usado também em situações de emergência, permitindo a entrada de ambulâncias. Os túneis auxiliares contam com sistema de imunidade a incêndios.
Todos seguem o padrão da rodovia, com pistas duplas e acostamento. São dotados de jatos ventiladores, portas corta-fogo e saídas de emergência, além de cancelas automáticas que bloqueiam o túnel em caso de acidente. O sistema de combate a incêndios inclui sensores de calor e fogo, desencadeando resposta automática do sistema, hidrantes duplos, extintores e mangueiras de longo alcance. Os equipamentos estão em pontos de apoio instalados a cada 60 metros de túnel.
Um sistema de exaustão retira a fumaça em caso de incêndio. Os alto-falantes são usados para transmitir inclusive mensagens em tempo real, como acidentes ou interdições. As câmeras de detecção automática de acidentes geram alerta quando um carro quebra e para no interior, ou quando um pedestre ou um animal invade o túnel. Há ainda sensores de poluição, medindo a concentração de gases entre a pista de rolamento e a abóbada.
Como compensação ambiental pela abertura da nova subida na Tamoios, foram plantadas 450 mil árvores numa área de 261 hectares, em parceria com a Associação Corredor Ecológico Vale da Paraíba. Além de ser coberta pela Mata Atlântica, compondo uma Reserva da Biosfera, a região é rica em fauna e flora. Por isso, foi necessário instalar um centro de reabilitação de animais silvestres, que já promoveu o resgate e a reinserção em seus habitats naturais 7.144 animais em todo o Vale do Paraíba, sendo 2,5% deles oriundos da área da Tamoios.
Sistema de radar nos túneis da Tamoios será instalado durante operação assistida
O novo trecho de serra da Tamoios ainda não possui radares em operação. Conforme a Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp), a fiscalização da velocidade é feita pela Polícia Militar Rodoviária no Centro de Controle Operacional (CCO), por meio das 49 câmeras instaladas nos túneis. Identificado o excesso de velocidade, o CCO aciona o policiamento.
Em outros pontos da estrada, há nove radares fixos, além dos portáteis. No novo trecho, os radares serão instalados conforme as demandas constatadas durante a utilização efetiva da estrada. Nos túneis, a rede de wi-fi entrará em funcionamento pleno durante a operação assistida, mas os usuários já podem utilizar o sistema de telefonia de emergência instalado ao lado dos hidrantes.
A Artesp informou que o acesso ao trecho de subida da Tamoios já tem sinalização indicativa conforme os padrões estabelecidos nos manuais dos órgãos de trânsito. Além da sinalização definitiva, o novo trecho conta com reforço da sinalização provisória (placas na cor laranja e painéis de mensagem variável) em pontos específicos para orientar os motoristas.
O canteiro de obras na parte inicial do novo trecho está segregado da rodovia e atende à continuidade das obras dos contornos de Caraguatatuba e São Sebastião. Um posto de fiscalização está sendo construído no início do novo trecho de serra para verificar o peso dos caminhões de carga. Atualmente, o controle é feito através da aferição da temperatura dos freios desses veículos.
A Artesp informou que a velocidade de 80 km/h é compatível com a geometria e a classificação rodoviária da via. Nessa velocidade, o percurso pode ser feito em 16 minutos, metade do tempo de viagem na pista antiga. Já a sinalização horizontal na pista antiga será mantida no período de operação assistida, de 90 a 120 dias, para que sejam realizadas as inversões de tráfego nos períodos noturnos. Devido a essas inversões, é necessário manter um trecho em mão dupla (pista simples) para o controle do fluxo e ajuste à pista de descida, que ainda opera em duplo sentido durante a noite.