A Justiça da Suíça autorizou a extradição de Rafael Esquivel, ex-presidente da Federação Venezuelana de Futebol e ex-dirigente da Conmebol, preso em Zurique, para os Estados Unidos. A decisão ainda pode ser alvo de um recurso e os advogados de defesa avaliam os argumentos da Justiça para determinar se ainda valeria a pena questionar a extradição. Mas a decisão manda um sinal claro de que os demais cartolas, entre eles José Maria Marin, devem seguir o mesmo caminho e serem extraditados.
Essa é a terceira extradição a pedido da Justiça americana aceita envolvendo os sete dirigentes presos no dia 27 de maio, na cidade suíça. Um dos dirigentes, Jeffrey Webb, aceitou de forma voluntária ser extraditado aos Estados Unidos. Eugenio Figueredo, ex-presidente da Conmebol, também teve sua extradição aprovada. No caso de Marin, seus advogados apresentaram uma defesa baseada no fato de que não existia base legal para a extradição e de que as provas eram “frágeis”. Uma decisão sobre o brasileiro é aguardada para sexta-feira.
Segundo o inquérito dos americanos, Marin teria pedido que parte da propina relativa à Copa do Brasil fosse direcionado a ele, numa conversa gravada com o empresário José Hawilla. Ele também aparece quando uma das empresas que comprou os direitos para a Copa América indica a distribuição de propinas para os dirigentes sul-americanos.
Inicialmente, seus advogados indicaram que iriam recorrer da decisão. Mas, agora, montaram pelo menos dois cenários diferentes. Se sentirem que a sentença é “frágil”, um recurso de fato vai ser apresentado e vão recomendar a Marin que “aguente firme” na prisão por mais alguns meses.
Mas caso a decisão dê sinais de que os suíços não estão dispostos a reconsiderar a extradição, a defesa do brasileiro acredita que apresentar um recurso seria “perda de tempo” e que apenas prolongaria a manutenção de Marin na prisão na Suíça.
O brasileiro tem um apartamento em Nova York e, pela lei, poderia negociar uma fiança de R$ 40 milhões que o permitiria ficar em prisão domiciliar enquanto o julgamento ocorresse. A extradição de Figueredo e de Esquivel também reforçam essa perspectiva de que Marin será extraditado.
Nesta quarta-feira, o Departamento de Justiça do governo suíço indicou que o venezuelano é acusado de “receber subornos por um valor de milhões na venda de direitos de comercialização da Copa América dos anos 2007, 2015, 2016, 2019 e 2023”. Marin é acusado pelos mesmos crimes.
“Estão cumpridos todos os requisitos para uma extradição”, indicou o governo suíço em um comunicado, que apontou que as acusações norte-americanas são consideradas como crime também no país.
“Esquivel, ao aceitar subornos na atribuição de contratos de comercialização esportiva, influenciou consideravelmente na concorrência e manipulou o mercado dos direitos relacionados com o meios de comunicação relativos à Copa América”, apontou a Suíça. “Além disso, as confederações e federações de futebol afetadas foram impedidas de negociar contratos mais favoráveis”, concluiu.
Uma fonte que esteve recentemente com Marin contou que o cartola está “ansioso”. Sem falar inglês ou alemão, o ex-presidente da CBF pouco se comunica na prisão. Ele passou os seus mais de três meses apenas lendo. Para garantir que o preso de 83 anos não se sentisse isolado, seus advogados organizaram uma agenda de três visitas semanais, apenas para manter seus dias ocupados.
Quem esteve com ele conta que já não fala mais de futebol, não pergunta nem da seleção brasileira e nem do São Paulo, seu time. Ri pouco, anda sério e de cabeça baixa e apenas abraça quem o visita. Os visitantes ainda tentam animar o cartola com histórias e dizem que o foco no Brasil já mudou para a CPI do Futebol e a situação de Marco Polo Del Nero, o atual presidente da CBF. Para testar se ele não entraria numa depressão ou apresentaria lapso de memória, seus advogados ainda mandam perguntas para avaliar suas respostas.