O Ministério Público da Suíça anuncia que abriu investigações contra o ex-gerente da área Internacional da Petrobras Eduardo Musa, novo delator da Operação Lava Jato e que citou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Seus ativos já foram bloqueados e, segundo a reportagem apurou, procuradores tentam traçar o destino e origem do dinheiro que alimentou suas contas. Outros envolvidos também passaram a ser investigados. Mas seus nomes têm sido mantido em sigilo.
No Brasil, Musa fechou um acordo de delação premiada e indicou que chegou a ter US$ 2,5 milhões no banco Cramer. Mas ele também admitiu ter usado o Credit Suisse e o Julios Baer.
Ele ainda envolveu Cunha (PMDB-RJ) e afirmou à força-tarefa da operação ter ouvido que “quem dava a palavra final” em relação às indicações para a Diretoria Internacional da Petrobras era o deputado.
Segundo o delator, foi o próprio João Augusto Henriques, apontado como lobista do PMDB no esquema e preso na 19ª fase da Lava Jato, que lhe revelou como eram as indicações políticas na Diretoria. “Que João Augusto Henriques disse ao declarante que conseguiu emplacar Jorge Luiz Zelada para diretor internacional da Petrobras com o apoio do PMDB de Minas Gerais, mas quem dava a palavra final era o deputado federal Eduardo Cunha, do PMDB-RJ”, relatou.
No total, a Suíça anunciou a existência de US$ 400 milhões bloqueados nas contas do país, entre eles o valor de Musa. À reportagem, Andre Marty, porta-voz do MP suíço, indicou que a investigação foi aberta e que seus ativos foram congelados.
O MP suíço indicou que outras pessoas também estão sob investigação, mas evitam por enquanto revelar os nomes. Questionado se Cunha estaria entre os envolvidos no inquérito, a procuradoria apenas respondeu que não poderia “nem confirmar e nem negar”.
A meta da investigação, agora, é a de saber quem recebeu e quem pagou as propinas às contas de Musa, além dos motivos pelos quais elas eram alimentadas. Uma das suspeitas é de que exista uma relação entre ele e a Odebrecht.
Musa ainda afirmou ao Ministério Público Federal que “por volta de 2008/2009” conheceu o doleiro Bernardo Freiburghaus, apontado como operador de propinas da empreiteira Odebrecht no exterior. Ele disse que “acredita ter sido apresentado a Bernardo por Rogério Araújo, da Odebrecht”.
Araújo, ex-diretor da empreiteira, está preso em Curitiba desde 19 de junho, alvo da Operação Erge Omnes, a etapa da missão Lava Jato que alcançou a cúpula da maior empreiteira do País, inclusive seu presidente, Marcelo Bahia Odebrecht.
Freiburghaus é suíço e, segundo os investigadores, voltou para seu País quando seu nome foi mencionado na operação. Antes de sair do Brasil, ele mantinha no Leblon, no Rio, a agência Diagonal, onde atendia a clientela interessada em remessas de valores para o exterior, segundo a Lava Jato.
O MP revelou que, desde a abertura do processo em abril de 2014, o caso da Petrobras ganhou “dezenas de sub-processos”, envolvendo inclusive investigações sobre a Odebrecht e ex-funcionários. Um deles foi Musa.
Em março de 2015, o Ministério Público do país revelou 300 contas em 30 bancos diferentes com dinheiro fruto da corrupção. Do total bloqueado, US$ 120 milhões foram devolvidos aos cofres brasileiros.