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Supremacia em amistosos com europeus embala seleções sul-americanas para a Copa

América do Sul 9 x 1 Europa. O saldo massacrante dos amistosos das datas Fifa de março, os últimos antes das convocações das seleções para a Copa do Mundo, acalentam nas equipes sul-americanas a esperança de protagonismo, de encerrar um jejum de títulos do continente que vem desde 2002, quando o Brasil faturou o pentacampeonato mundial, além de mostrar ser real a possibilidade de ver as cinco seleções filiadas à Conmebol e que estão garantidas na Rússia avançando na primeira fase.

Essa expectativa se dá pelo sorteio realizado no fim de 2017 em Moscou, que colocou Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia e Peru em grupos que tornam factível a passagem de todos eles às oitavas de final do Mundial, assim como pelo desempenho nos recentes amistosos, embora especialistas alertem que o sentimento de euforia é o pior que pode acontecer neste momento. “Essa é a hora para testes, as equipes atuaram modificadas. Na hora da competição, muda muita coisa”, alerta Carlos Alberto Parreira, técnico do Brasil na conquista do tetracampeonato mundial, em entrevista ao Estado.

Principal expoente do futebol do continente, tanto que sobrou nas Eliminatórias, a seleção brasileira encarou duas equipes europeias nos últimos dias, em duelos que tiveram grande valia. Mais do que servirem para consolidar opções para Tite escalar a sua seleção, como Thiago Silva e Douglas Costa, os confrontos também mostraram a força da equipe diante de rivais do Velho Continente.

Até então, a equipe com Tite só havia enfrentado um europeu, a Inglaterra, em um empate por 0 a 0. Agora, porém, passou pela anfitriã Rússia por 3 a 0 e também pela Alemanha por 1 a 0, com uma atuação que o treinador espera ter ajudado a espantar o “fantasminha” dos 7 a 1 na Copa de 2014.

“A seleção brasileira entra como uma das favoritas, candidatas ao título. Basta ver o trabalho que o Tite vem desenvolvendo e os resultados que vem conquistando”, cravou Parreira, ainda que destacando que a Alemanha abriu mão de usar titulares importantes como Özil e Müller. “O 7 a 1 deixou lições para o futebol brasileiro, todos nós aprendemos com ele”, acrescentou.

O contraponto a essa supremacia sul-americana veio da Argentina, goleada por 6 a 1 pela Espanha, na última terça-feira, em Madri, quando não contou com Messi. Para Parreira, porém, que relembrou a vitória da equipe dirigida por Jorge Sampaoli por 2 a 0 sobre a Itália dias antes para destacar seu poderio, o resultado disse mais sobre o rival do que da própria Argentina. “A Argentina mostrou que pode ser forte sem o Messi. A seleção espanhola está me impressionando muito, não só pelo que fez contra a Argentina, mas principalmente pela exibição que teve contra a Itália, quando fez 3 a 0, nas Eliminatórias (em setembro de 2017)”, comentou.

Para Júnior, lateral-esquerdo do Brasil nas Copas de 1982 e de 1986, porém, a acachapante vitória espanhola separou os gigantes sul-americanos na relação de favoritos ao título. “Os amistosos mostraram que há vida para o Brasil sem o Neymar (o atacante do PSG ainda se recupera de fratura no quinto metatarso do pé direito). Mas não sei se há vida para a Argentina sem Messi”, avaliou o ex-jogador, em entrevista ao Estado.

Mais do que por Brasil e Argentina, os resultados dos recentes amistosos chamaram a atenção pelo desempenho de Colômbia, Uruguai e Peru, equipes que vão à Rússia e ainda buscam um maior protagonismo no cenário mundial. Foram cinco vitórias em cinco duelos com seleções europeias.

Garantida no seu primeiro Mundial desde 1982, a seleção peruana encerrou um jejum de 19 anos sem vencer uma seleção europeia ao bater Croácia e Islândia em amistosos, curiosamente rivais da Argentina no Grupo E da Copa. E ampliou sua invencibilidade para 12 jogos, não perdendo desde que caiu para o Brasil em novembro de 2016 nas Eliminatórias. Para se motivar ainda mais, viu a Dinamarca, sua principal rival no Grupo C da Copa por uma vaga nas oitavas de final – a favorita França e a coadjuvante Austrália completam a chave – não ir além do 0 a 0 em um amistoso com o Chile, em casa.

Na visão de Parreira, esse ótimo momento peruano tem um responsável: Ricardo Gareca. “O Peru sempre teve bons jogadores, desde a seleção de 1970. O que estava faltando era um bom técnico que organizasse esses talentos”, afirmou o tetracampeão mundial, também elogiando a longevidade dos trabalhos de José Pekérman à frente da Colômbia – está no cargo desde 2012 – e de Óscar Tabárez, no comando do Uruguai desde 2006.

Foi, aliás, da Colômbia o resultado mais surpreendente dos recentes amistosos, ao bater a França por 3 a 2, de virada, em Saint-Denis. “Eu ainda os vejo menos concentrados”, avalia Junior, lembrando que os colombianos decepcionaram no duelo seguinte, não indo além de um 0 a 0 com a Austrália, com direito a pênalti perdido pelo palmeirense Borja. Já o Uruguai e o seu poderoso ataque formado por Cavani e Suárez passou por duas seleções europeias que não vão à Rússia – País de Gales e República Checa – para faturar o título da Copa da China, um torneio amistoso realizado no país asiático.

Após a Copa do Mundo, será bem mais raro acompanhar amistosos entre seleções da Europa e da América do Sul. Afinal, a partir de setembro todas as equipes nacionais do Velho Continente estarão envolvidas na Liga das Nações, sobrando cada vez menos datas para os confrontos intercontinentais, quase que reservados aos Mundiais.

Na próxima Copa, aliás, estão previstos oito duelos na fase de grupos entre sul-americanos e europeus: Uruguai x Rússia; Peru x França e Dinamarca; Argentina x Islândia e Croácia; Brasil x Suíça e Sérvia; e Colômbia x Polônia. Será o momento de transformar os bons resultados dos amistosos em três pontos.

“A gente leva esses amistoso muito a sério, eles usam mais esses jogos como preparação”, alerta Júnior. “Jogar uma Copa na Europa é mais difícil, sim, para as seleções sul-americanas. Mas já foi pior, porque hoje toda a seleção atua na Europa”, concluiu Parreira, apontando como real a possibilidade de alguma equipe repetir o Brasil de 1958 e se tornar a segunda seleção sul-americana a vencer um Mundial no continente europeu.

AMÉRICA DO SUL X EUROPA EM MARÇO

BRASIL: 3 x 0 Rússia e 1 x 0 Alemanha
ARGENTINA: 2 x 0 Itália e 1 x 6 Espanha
CHILE: 2 x 1 Suécia e 0 x 0 Dinamarca
PERU: 2 x 0 Croácia e 3 x 1 Islândia
COLÔMBIA: 3 x 2 França
URUGUAI: 2 x 0 República Checa e 1 x 0 País de Gales

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