Ainda chocado pela demissão sumária na Fórmula 1, o piloto russo Nikita Mazepin criticou nesta quarta-feira a postura da Haas e a forma como teve seu contrato encerrado pela equipe americana, evitou falar sobre a invasão russa na Ucrânia e anunciou que está criando uma fundação para ajudar atletas prejudicados pela guerra.
Na esteira do conflito entre os dois países, Mazepin foi demitido pela Haas no sábado. O time americano também rompeu o vínculo com a patrocinadora Uralkali, marca de fertilizantes pertencente ao pai de Nikita, Dmitry Mazepin. Tudo isso foi motivado pelas regras rígidas impostas pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) a competidores e outros profissionais russos.
A saída de Mazepin abre caminho para o possível retorno de um brasileiro ao grid da F-1. Pietro Fittipaldi, neto de Emerson, é o piloto reserva imediato da Haas. Mas tem a concorrência de pilotos mais experientes, que contam com patrocinadores para tentar a vaga de titular da Haas para a temporada 2022.
"Eu não esperava que a Haas fosse quebrar o meu contrato. Não percebi que isso aconteceria. Foi uma situação muito inesperada e dolorosa para mim", disse Mazepin, que criticou a postura do time. De acordo com ele, a demissão não foi informada por Gene Haas, dono da equipe, ou Günther Steiner, chefe do time, mas por um advogado. "Acho que poderiam ter demonstrado maior apoio porque não havia nenhuma razão legal para terminar meu contrato."
Pouco antes da saída de Mazepin da F-1, a FIA havia decidido banir a Rússia de todas as competições internacionais de automobilismo. Mas permitira que atletas do país seguissem nos campeonatos com bandeiras neutras, sem exibir símbolos, cores, hinos e a própria bandeira da Rússia.
A entidade também exigiu dos pilotos que assinassem documento se comprometendo com princípios de paz e neutralidade e também com "solidariedade ao povo da Ucrânia". Mazepin, cujo pai é conhecido por ser muito próximo do presidente russo, Vladimir Putin, disse que iria assinar o documento se não tivesse sido demitido antes.
O russo anunciou que vai utilizar os recursos de patrocínio da Uralkali, empresa que conta com seu pai como um dos seus proprietários, para lançar uma fundação batizada de "Competimos como um só" (We Compete as One, em referência clara ao mote da F-1, "We race as one").
"A fundação vai alocar recursos, tanto financeiros quanto não financeiros, para ajudar atletas que passaram suas vidas se preparando para Olimpíada e Paralimpíada, ou outro tipo de evento de alto nível, mas que foram proibidos de competir e foram punidos coletivamente apenas por causa dos seus passaportes", explicou o piloto, ao alfinetar a F-1 e a FIA.
Mazepin prometeu ainda auxílio jurídico e psicológico e também empregos aos atletas. "Ninguém está pensando no que vai acontecer com estes esportistas. Isso inclui todos os atletas que estão em zonas de conflito. Nossa porta estará aberta para todos. Vamos começar com o time russo paralímpico, que foi banido dos Jogos Paralímpicos de Inverno de Pequim-2022."
Questionado sobre sua opinião sobre a invasão russa na Ucrânia, o piloto se esquivou. "Quanto ao que está acontecendo agora, eu já explicitei minha visão de mundo e minha posição. Não haverá mais informação sobre isso", declarou, pouco depois de ler um breve comunicado sobre a guerra: "Aqueles que não vivem nesta parte do mundo, ou não nasceram aqui, vão ver apenas uma parte de tudo isso. Aqueles que estão na Rússia ou na Ucrânia vemos este conflito em muitos outros níveis. Tenho amigos e parentes que estão, por força do destino, dos dois lados deste conflito".