Há três anos, Tacy de Campos era uma jovem extraordinariamente tímida recém-chegada do frio de Curitiba para assumir, no Rio, o papel de Cássia Eller (1962-2001) no musical que viria ser aplaudido por plateias de todo o País. Era tão introvertida que mal se ouvia sua voz nas entrevistas que precederam o lançamento do espetáculo. Nele, paradoxalmente, ela tirava a camiseta e mostrava os seios, ao modo Cássia, já na primeira cena.
Vinte e sete estados percorridos e mais de 500 apresentações depois, uma Tacy confiante e sorridente fala agora de seus novos e ainda maiores desafios: a carreira profissional de cantora e compositora e a esperada estreia em CD, com o roqueiro O manifesto da canção. O disco traz dez canções suas (uma delas, com a parceira Jana Figarella, sua substituta quando há sessões duplas da peça).
A jovem se diz muito grata a Cássia, a quem já homenageava apresentando seu repertório com a banda curitibana Os Marginais.
Não só pela oportunidade de estar no centro do palco e de nele cantar 40 músicas, superando, para além do acanhamento, a falta de experiência como atriz. Mas também por ter conhecido nos bastidores profissionais que se tornaram sua família carioca, e que agora a acompanham no CD, como Diogo Viola e Fernando Nunes, que produziram o disco, e a parceira Jana, e no seu show, produzido por Joana Motta e dirigido por Alexandre Elias.
“Cássia é como se fosse uma madrinha, ela uniu muita gente. Eu não teria conhecido nenhuma dessas pessoas se não fosse a peça”, diz Tacy, cujo timbre, os vibratos, o sotaque e o modo de cantar se assemelham imensamente aos de Cássia. “Eu entendo as pessoas falarem que parece. Geralmente levo na boa. Eu sei que não sou igual, quem diz que sou é porque não me conhece. O disco deixa isso bem claro. Uma hora vão me conhecer”.
Tacy se apresenta na abertura do disco, na dançante Manifesto da canção, que serve de carta de intenções ao ouvinte: “O que é uma poesia?/ Será isso uma canção?/ Escrevo porque preciso/ Pra consertar meu coração”. Em Sem ser, ela fala dos tropeços e acasos da vida, e se desculpa: “Não me leve a mal/ Não faço por mal / É meu natural/ Quase tão normal”. Em meu lugar narra de forma irônica a morte de um relacionamento, num clima de saloon. Rebelde sem causa, uma das poucas composições mais antigas, condena a “gente tão besta” que “absolve estuprador”. O CD, que mistura rock, country e blues, termina com uma faixa instrumental, Fazenda na praia.
Aos 15 anos ela começou a tocar violão, e a compor letra e música. Ter uma banda de rock era um sonho desde que se apresentava sozinha em bares de Curitiba, cidade que deixou para trás de vez. A peça concluiu temporada no Rio e não deve viajar mais, a não ser para apresentações pontuais.
Escolhida entre mil candidatas a Cássia por seu vídeo caseiro de Por enquanto, descoberto no YouTube pela produção, Tacy não pretende seguir atuando. “Meu negócio é música, só penso em tocar e compor. A peça foi uma experiência muito difícil e muito válida, mas não vou sair por aí fazendo musical do Sidney Magal”. Nos shows, ela canta suas músicas entre clássicos dos artistas que mais admira, como Bichos escrotos, dos Titãs, e Na sua estante, da Pitty.
“O rock, para mim, começou bem antes da Cássia. Minha mãe botava Legião Urbana em casa. Renato Russo é minha principal referência para compor: gosto dessa coisa de contar uma história, de não ter preocupação de ter refrão. Eu já mostrei letras para um amigo e ele falou: Nossa, meio Legião! Tenho que ter cuidado para não ficar na mesma onda”, conta. “Cresci ouvindo Raul Seixas, Elvis Presley.
A Pitty também. É uma das poucas mulheres que se mantêm no rock. É linda, feminina, não é rocknroll de pau mole, e sem ser sapatão, faz algo tão viril quanto. Nada contra ser sapatão, eu sou, por acidente”, brinca.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.