Estadão

Taleban domina quase 20% das capitais regionais afegãs; EUA mantêm retirada

O Taleban assumiu na segunda-feira, 9, o controle de mais duas capitais regionais no Afeganistão. O grupo extremista islâmico domina agora 6 dos 34 centros de poder provinciais. Mesmo diante da ofensiva, os EUA mantiveram o cronograma de retirada de tropas, que devem encerrar no fim do mês uma guerra que já dura 20 anos.

Nas últimas 48 horas, os jihadistas tomaram as cidades de Aybak, Sar-e Pul e Kunduz, importante ponto estratégico no norte do Afeganistão. Autoridades locais e soldados do governo afegão, apoiado pelos EUA e pela Otan, fugiram para regiões vizinhas, oferecendo pouca ou nenhuma resistência.

Com a retirada das tropas ocidentais, o Taleban iniciou uma agressiva campanha militar. No final de julho, o grupo extremista havia assumido o controle de aproximadamente metade dos 400 distritos do país. Ao abandonarem bases e postos avançados, os soldados do governo deixam para trás armas e equipamentos. Em muitos casos, as tropas se rendem sem luta, após a intermediação de anciãos e líderes comunitários enviados pelo Taleban.

O rápido avanço vem provocando recriminações sobre a retirada das forças estrangeiras do Afeganistão. Ontem, o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, disse que o acordo firmado pelos americanos com o Taleban, no ano passado, ainda no governo Donald Trump, foi "desastroso".

Wallace disse que o Reino Unido pediu a alguns países da Otan que mantivessem suas tropas no país, mesmo após a saída dos EUA, mas não conseguiu apoio. "Alguns até se mostraram interessados, mas disseram que seus Parlamentos não aprovariam. Sem os EUA como referência, essa opção não existe mais", disse Wallace.

Ontem, Annegret Kramp-Karrenbauer, ministra da Defesa da Alemanha, rejeitou apelos para que seus soldados retornassem ao Afeganistão depois que os insurgentes tomaram Kunduz, onde as tropas alemãs estiveram posicionadas por mais de uma década.

"Os relatos de Kunduz e de todo o Afeganistão são tristes e doem muito", disse a ministra. "Mas a sociedade e o Parlamento estão preparados para enviar forças para a guerra e permanecer lá com tropas por pelo menos uma geração? Se não estivermos, então a retirada continua sendo a decisão certa."

A ofensiva do Taleban também não mudou a posição do presidente dos EUA, Joe Biden, que não deu sinais de reavaliar sua decisão de encerrar os combates. O avanço dos extremistas, no entanto, mostra como será difícil para a Casa Branca encerrar a guerra sem deixar a impressão de que está abandonando o Afeganistão.

Autoridades americanas, falando sob condição de anonimato à agência Reuters, disseram que, embora os militares tenham alertado Biden de que as capitais regionais cairiam com a retirada das tropas, todos ficaram surpresos com a rapidez com que algumas estavam sendo dominadas.

Para Biden, que defendeu o fim da guerra durante a campanha, a retirada é calculada. Assessores do presidente americano dizem que os EUA não podem alcançar mais nada no Afeganistão e afirmam que a missão inicial foi cumprida, a de derrotar a Al-Qaeda após os ataques de 11 de setembro de 2001 – mesmo que o Taleban ainda não tenha cortado seus laços com o grupo.

"Quase 20 anos de experiência nos mostram que apenas mais um ano de combates no Afeganistão não é uma solução, mas uma receita para permanecer no país indefinidamente", disse Biden, em julho.

Em busca de uma saída honrosa, o governo americano vem tentando negociar um acordo de paz que interrompa a violência no Afeganistão, embora uma solução diplomática pareça cada vez mais inviável. O objetivo da Casa Branca é interromper os ataques jihadistas em troca da retirada das tropas e do fim das sanções.

Até agora, no entanto, os americanos não encontraram interlocutores confiáveis. "Os líderes do Taleban continuam a dizer uma coisa, mas suas palavras soam vazias em meio aos ataques contínuos", disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, na semana passada. Irritado, o presidente afegão, Ashraf Ghani, acusou o grupo de não querer um acordo. "O Taleban não acredita em paz duradoura ou justa", afirmou. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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