Em busca de legitimidade internacional, o Taleban nomeou seu porta-voz baseado em Doha, Suhail Shaheen, como embaixador do Afeganistão na Organização das Nações Unidas (ONU) e pediu espaço para um discurso de seu chanceler, Amir Khan Muttaqi, durante a Assembleia-Geral, que vai até segunda-feira, 27.
O ministro das Relações Exteriores do governo do Taleban, Amir Khan Muttaqi, fez o pedido em uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, na segunda-feira.
Muttaqi pediu para falar durante a reunião anual da Assembleia-Geral, que termina na próxima segunda-feira. O porta-voz do português, Farhan Haq, confirmou o recebimento da correspondência.
A iniciativa do grupo extremista, que retomou o poder após a retirada das tropas ocidentais do Afeganistão, é mais um passo em busca de legitimidade internacional – que, por sua vez, auxiliaria a ampliar a ajuda humanitária e a obter fundos em reservas internacionais para reativar a economia.
Da primeira vez em que governou o país, de 1996 a 2001, o Taleban tinha reconhecimento oficial apenas de Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
O movimento estabelece um conflito com o atual representante do país na ONU, Ghulam Isaczai, nomeado pelo governo de Ashraf Ghani. O ex-presidente, derrubado pelo Taleban, se refugiou em Abu Dhabi no dia da reconquista da capital, Cabul. A mensagem do Taleban diz que a missão de Isczai está "considerada encerrada".
Guterres disse que o desejo do Taleban de reconhecimento internacional é a única alavanca que outros países têm para pressionar por um governo inclusivo e que respeite os direitos humanos, especialmente das mulheres, no Afeganistão.
Até que uma decisão seja tomada pelo comitê, Isaczai permanecerá na cadeira, de acordo com as regras da Assembleia-Geral. Ele deverá discursar no último dia da reunião, em 27 de setembro, mas não ficou claro se algum país poderia objetar após a carta do Taleban.
O comitê tradicionalmente se reúne em outubro ou novembro para avaliar as credenciais de todos os membros da ONU antes de enviar um relatório para aprovação da Assembleia-Geral antes do final do ano. O comitê e a Assembleia-Geral geralmente operam por consenso em relação às credenciais, disseram diplomatas.
Um porta-voz da entidade disse que o secretário-geral recebeu também uma segunda carta, enviada pelo atual embaixador, com data de 15 de setembro, informando os integrantes da delegação afegã.
Shah Mahmood Qureshi, chanceler do Paquistão, país vizinho ao Afeganistão, disse em uma entrevista classificou o pedido do Taleban como complexo.
"Quem ele representa? A quem ele se reporta? Que tipo de comunicação você pode ter com uma pessoa na ONU que não tem reconhecimento? É uma situação complexa e que está em andamento", disse, segundo relatado pelo jornal americano <i>The New York Times</i>.
Haq explicou que o pedido de Muttaqi foi encaminhado para um comitê de credenciais, que possui entre seus nove membros EUA, China e Rússia – Pequim e Moscou buscam ocupar o vácuo de influência deixado pela retirada de Washington do Afeganistão e já disseram que podem firmar relações com os taleban.
É improvável, no entanto, que a cúpula se reúna para discutir a questão antes de segunda, o que torna difícil um pronunciamento de Muttaqi no evento que reúne mais de cem líderes mundiais em Nova York.
Pelas regras da ONU, as credenciais continuam com Isaczai, que teria seu pronunciamento na Assembleia-Geral pré-agendado para o próximo dia 27. O comitê de credenciais se reúne geralmente entre outubro e novembro para analisar os pedidos das delegações.
O Taleban ainda é alvo de sanções econômicas de organismos multilaterais, e delegações alertaram à Assembleia-Geral que qualquer mudança na representação do Afeganistão precisaria ser analisada de forma criteriosa.
Líderes que já discursaram no evento iniciado na terça-feira, 21, manifestaram preocupação com o futuro do Afeganistão. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS