A ocupação da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, pelas forças de segurança do Estado, mereceu cobertura ao vivo em rede nacional na madrugada do último domingo, como se aquele assunto fizesse parte do cotidiano de todo brasileiro. Em poucas horas, sem um tiro sequer disparado, como fizeram questão de mencionar os líderes da ação, a favela voltava a ser da população, livre do tráfico e da bandidagem.
Sem dúvidas, trata-se de um marco para o país, mas principalmente para aquela comunidade que cresceu à sombra da marginalidade. Porém, há que se atentar a um fato: mais uma vez, o governo do Rio de Janeiro cria um fato para esconder anos e mais anos de sua total incompetência. Agora, com a aproximação da Copa do Mundo e Olimpíadas, a pressão da comunidade internacional não permite mais que a sujeira seja varrida para baixo do tapete. Ou seja, não existe outra coisa a fazer do que combater o crime de frente. Mas que ninguém seja ingênuo a ponto de acreditar que – da noite para o dia – tudo está resolvido. Não. Mais uma vez, com exceção da prisão – quase que por acaso – do líder Nem, foram dadas todas as oportunidades possíveis para que os chefes se tranferissem para outros morros, até para alguns já ocupados pelas comemoradas Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs.
Aliás, essas UPPs passaram a ser sonhos de consumo de qualquer comunidade do país, onde impera a criminalidade. Não adianta abafar o tráfico na Rocinha e permitir o livre comércio no morro ao lado. Tudo bem que há passos a serem dados e, aparentemente, o Rio de Janeiro vem fazendo a lição de casa. Mas precisa ir muito mais longe. O Brasil carece de uma grande UPP, que aja diretamente nas fronteiras para combater a entrada de armas e drogas de uma vez por todas, agindo contra interesses maiores, que ainda prevalecem.
Que ninguém se engane. Apesar da geografia diferente, São Paulo está tão contaminado como o Rio de Janeiro. E muito pouco é feito por aqui. Nossas favelas têm donos. A população é refém. E segue nesse estado até porque o tráfico é bancado por quem tem dinheiro e vive longe dos barracos. Enquanto a sociedade passar a mão na cabeça de seus consumidores de drogas, sem ações fortes para combater essa grande doença social, assistiremos os cachorros correndo atrás dos próprios rabos, sem nunca resolver os problemas de fato. Chega de hipocrisia. UPPs já em todo o Brasil.