Em entrevista ao Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo, no lançamento de Trago Comigo, a produtora e diretora Tata Amaral, já antecipando a má bilheteria, refletia sobre a realidade do mercado colonizado e dizia que, mais que nunca, é preciso buscar alternativas para levar a produção nacional ao público. Uma iniciativa muito interessante, e bem-sucedida, tem sido a realização de saraus culturais na periferia. Nesta quarta, 29, ela lança o DVD de Trago Comigo, praticamente eliminando a tradicional janela. O filme estreou nos cinemas há apenas duas semanas.
O DVD será lançado na Blooks Livraria, do Shopping Frei Caneca, 3.º piso, a partir das 19h, com direito a intervenção das Pretas do Peri, que Tata descobriu em sua série ainda inédita Causando na Rua. “Elas vão recitar trechos dos depoimentos que foram pesquisados para o filme e ficaram fora da edição final”, disse a diretora.
Se o público não vem, a gente corre atrás. Trago Comigo retoma o tema da memória da ditadura, que Tata abordou em Hoje. Aqui há um imbróglio temporal. Trago Comigo é anterior a Hoje, de 2011. É de 2009, quando o tema da delação tinha um significado no País. Agora, com as delações premiadas da Lava Jato, tem outro, embora ninguém seja louco de comparar as duas coisas. Trago Comigo não está sendo o único filme brasileiro a fracassar nas bilheterias. Tem havido uma rejeição do mercado ao filme médio brasileiro, e qualidade não tem nada com isso. Trago Comigo é muito bom, e vai mal. Big Jato é maravilhoso – um dos grandes filmes do ano -, e vai pior ainda, o que pode ser creditado, à personalidade vulcânica do diretor Cláudio Assis. Sempre acusado de machismo – mas o filme não é, sendo até sobre a vitória da delicadeza da mulher, do perfume sobre o cheiro fétido do excremento -, Claudião se envolveu naquela polêmica com Anna Muylaert, no ano passado. O assunto, que parecia morto, recrudesceu quando a imprensa carioca, na estreia de seu filme, logrou extrair dele uma declaração bombástica do tipo que Anna o usou para aumentar a bilheteria de Que Horas Ela Volta? Se isso influenciou no desempenho de Big Jato? Pode ser que sim.
Funciona para mal, mas a atualidade, a cultura do estupro, não ajuda um filme como o argentino Paulina, outra decepção de público. Outro caso traumático foi o de O Outro Lado do Paraíso, o longa de André Ristum baseado no livro de Luiz Fernando Emediato e produzido pelo autor, que colocou dinheiro de sua editora na produção. Em e-mails à imprensa, Emediato colocou-se como vítima do mercado. Pode ser paranoia, mas a verdade é que o sucesso ou fracasso dos filmes na bilheteria – veja números – não tem nada a ver com qualidade. Os médios (e de arte) têm entrado em cartaz para o sacrifício. O repórter era o único espectador quando foi ver Vampiro 40º, havia dois espectadores na sessão noturna de Trago Comigo, na segunda, 20, no Frei Caneca.
Adhemar Oliveira, diretor de programação do Grupo Espaço, reflete sobre a situação. “A gente se preocupa mais com o filme brasileiro, mas essa situação tem atingido o filme médio de outras procedências. Alguns filmes franceses, precedidos de boa expectativa, não estão fazendo atualmente o que filmes menos prestigiados faziam há três, quatro anos.” Ele diz que a situação piorou muito no último ano. “Com a crise, pessoas que iam muito a cinema, três, quatro vezes por mês ou mesmo por semana, estão tendo de reduzir. Vão uma, duas. Ficam mais seletivas, e a seletividade não tem necessariamente a ver com qualidade. Não é nem como exibidor e distribuidor que falo. Tinha expectativa pelo Big Jato, porque gosto do filme. Antes, a gente segurava. Não deu na primeira semana, vamos esperar a segunda, a terceira. Ficou caro fazer isso. As planilhas de custos viram nosso tormento.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.