Estadão

Taxas caem com efeito da desistência de Biden sobre emergentes e percepção fiscal

Os juros futuros fecharam a segunda-feira em queda, refletindo maior confiança do investidor no cenário fiscal doméstico e também aumento do apetite ao risco por ativos de economias emergentes. Declarações do presidente Lula indicando que não hesitará ante a necessidade de se fazer novos bloqueios no Orçamento reforçaram à tarde o movimento de queda já estabelecido pela desistência de Joe Biden de concorrer à reeleição nos EUA e pelo corte surpresa de juros na China. Ainda, o comportamento das medianas de IPCA no Boletim Focus também foi apontado como fator de alívio.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,655%, de 10,681% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,44% para 11,40%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,64% (de 11,69%) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,93%, de 12,01%.

Profissionais deram um pouco mais de peso ao cenário internacional para explicar o comportamento das taxas, ainda que à tarde fatores domésticos tenha se destacado e ajudado a blindar o mercado local do contágio do avanço dos Treasuries. "Na ordem de grandeza dos fatores, o externo ficou em primeiro plano", disse a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.

A saída de Biden da disputa pela Casa Branca favoreceu ativos emergentes como um todo, dada a leitura de que um outro nome será mais competitivo, sobretudo se confirmada a projeção de que a vice-presidente Kamala Harris assumirá a candidatura democrata. Na leitura do mercado, o ex-presidente Donald Trump agora ficou um pouco menos favorito do que era com Biden candidato. O viés protecionista da eventual administração de Trump traz preocupações para o cenário inflacionário e, consequentemente, sobre o ciclo de corte de juros nos EUA. "A desistência de Biden dá alguma oxigenação para a candidatura democrata e esse acirramento da disputa é visto com bons olhos do ponto de vista dos gastos públicos", explica a economista.

As moedas emergentes tiveram ganhos firmes ante o dólar, o que reverberou sobre as curvas de juros. Aqui, o dólar chegou a rodar nos R$ 5,53 nas mínimas do dia, voltando para R$ 5,5701 no fechamento. Esse movimento teve apoio do inesperado anúncio de corte de juros na China, ainda que a magnitude de 0,10 ponto porcentual tenha decepcionado.

À tarde, os juros dos Treasuries passaram a subir com o risco eleitoral no radar, mas o mercado doméstico acabou sendo protegido pela fala de Lula. Em entrevista a agências internacionais de notícias, ele disse que fará bloqueios no Orçamento sempre que precisar. Afirmou que a contenção de R$ 15 bilhões no Orçamento de 2024 não foi a primeira a ser feita pelo governo e frisou que, se gastar mais do que arrecada, o País "vai quebrar". Ao mesmo tempo, ponderou que a gestão orçamentária à frente vai depender do comportamento das receitas.

Em entrevista sobre o relatório, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, reiterou o compromisso com o cumprimento das metas fiscais – "não está em risco e não mudará" – e garantiu que o cenário fiscal é compatível. O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, avaliou que, embora a arrecadação apresente boa performance, o resultado ainda está "um pouco inferior" ao necessário para cobrir as despesas por causa de frustrações, em especial de desonerações.

Além do relatório, a agenda da segunda-feira trouxe ainda o Boletim Focus, que mostrou mudança marginal nas expectativas de IPCA de curto prazo. A projeção para 2024 teve alteração de 4,00% para 4,05%, mas nos horizontes importantes para a política monetária, 2025 e 2026, as expectativas foram mantidas em 3,90% e 3,60%.

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