Os juros futuros encerraram a quinta-feira em alta nos vencimentos de médio e longo prazos e estáveis nos demais prazos. A sessão pós-Copom foi de volatilidade, com o mercado digerindo o comunicado sobre a decisão de elevar a Selic para 3,5% e sob o impacto do recuo do dólar abaixo dos R$ 5,30. O dia ainda teve leilão de títulos prefixados, com volume bem menor de NTN-F em relação ao anterior e ligeiramente acima no caso da oferta de LTN.
A sinalização do Copom para os próximos meses resultou em ajustes na precificação da curva para a taxa básica, fortalecendo a aposta de novo aumento de 0,75 ponto porcentual para o encontro de junho, como indicaram os diretores.
As taxas começaram o dia perto da estabilidade, engataram queda a partir do fim da manhã, mas na última hora de negócios passaram a exibir alta nos vencimentos longos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 4,80%, estável ante o ajuste de quarta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 7,956% para 8,03%. O DI para janeiro de 2027 encerrou em 8,65%, de 8,564% no ajuste anterior.
A interpretação do texto do Copom foi difusa, com dificuldade em se qualificar como hawkish ou dovish, o que trouxe hesitação para as taxas no começo do dia.
Ao mesmo tempo em que manteve a ideia de que o ciclo será de recomposição parcial da Selic, o Copom preferiu se precaver afirmando que isso não necessariamente representa um compromisso e deixando algum espaço para reconduzir a Selic para o chamado nível neutro. Também contratou novo aumento de 0,75 ponto para junho, o que não foi surpresa, mas ao mesmo tempo visto como um sinal conservador, uma vez que em apenas três reuniões o ajuste já terá chegado a 2,25 pontos.
Para Sérgio Machado, sócio-gestor da Trópico SF2, o Copom "se esmera" em ser confuso na comunicação. "A prova disso é a percepção diversa dos agentes", escreveu em sua conta no Twitter. "Vamos ver quem ganha a briga: as pombas ou os falcões. Nada como um BC para imputar volatilidade na curva de juros."
Na avaliação do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, um ajuste parcial no processo de normalização é insustentável. "A melhor alternativa seria reconhecer explicitamente que perseguirá o ajuste integral, sem, contudo, comprometer-se por atingir no novo equilíbrio dentro do ano calendário nem com a magnitude dos próximos reajustes", afirmou, em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Como resultado do Copom, a curva tinha precificação de 82 pontos-base de alta para o encontro de junho, ainda com cerca de 25% de chance de aumento de 1 ponto porcentual. Os cálculos são do economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, que pondera que o mercado esteve nesta quinta-feira muito contaminado pelos ajustes técnicos típicos de pós-Copom. "Isso deve se acomodar nos próximos dias, a probabilidade de 1 ponto para junho ainda está muito forte", disse.