Os juro futuros de curto prazo fecharam a sessão desta quarta-feira, 2, em alta e os demais, em queda, resultando em desinclinação para a curva. O movimento do mercado foi associado pelos profissionais da renda fixa às expectativas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). As apostas no corte de 50 pontos-base na atual Selic de 13,75%, que já vinham perdendo fôlego na terça, arrefeceram ainda mais, com o quadro nesta quarta bastante simétrico em relação à probabilidade de queda de 25 pontos.
A aversão ao risco relacionada ao rebaixamento do rating dos Estados Unidos pela Fitch, que pressionou ativos pelo mundo, acabou sendo absorvida ao longo da tarde na renda fixa local.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,66%, de 12,594% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,63% para 10,67%, e a do DI para janeiro de 2027 recuou de 10,14% para 10,07%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 10,44%, de 10,52% na terça.
Em boa medida, a postura mais conservadora do mercado com relação ao Copom decorre da percepção de um cenário totalmente em aberto, não somente em relação à decisão em si, se 50 ou 25 pontos, mas como virá a comunicação dos próximos passos e o placar da votação.
O economista-chefe do BMG, Flávio Serrano, destaca que a aposta na redução de 50 pontos vem perdendo terreno desde a terça, mas o mercado também pode estar antevendo um tom mais duro do comunicado. "Dada essa visão, temos esse flattening da curva hoje, que é incompatível com a aversão ao risco lá fora", explicou.
De acordo com Serrano, a precificação dos DIs no meio da tarde apontava exatamente 50% de probabilidade para cada lado (25 e 50 pontos), de 40% e 60% na terça. Para o fim de 2025, a projeção da curva era de taxa a 12,25% e no fim de 2024, entre 9,00% e 9,25%. Um quadro de relativo equilíbrio também era registrado nas opções digitais.
O comportamento das taxas locais contrasta com o desenho da curva americana. O retorno das Treasuries de 2 anos caiu e os demais subiram, com o ganho de inclinação atribuído à reação negativa à decisão da Fitch de cortar o rating dos EUA, de AAA para AA+. Além disso, a criação de emprego no setor privado apontada pelo relatório ADP em julho, de 324 mil vagas, ficou muito acima do esperado (183 mil), reforçando a cautela antes do payroll na sexta-feira.
"Olhando a T-Note de dez anos, a curva aqui deveria estar abrindo, mas há uma percepção de que o BC pode ser mais cauteloso nas quedas", endossa o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima.
Para ele, no entanto, é possível que, mesmo aplicando a dose de 50 pontos, o Copom indique gradualismo no ciclo de afrouxamento. "A grande discussão será a de que em qual momento o Copom vai acelerar o ritmo", comentou. Para tanto, o placar de votação combinado à linguagem do comunicado será essencial para esse debate. "Se houver divisão nos votos, terá de ficar claro qual é a visão de cada diretor para o processo como um todo", observa.