A quarta-feira de decisão de política monetária no Brasil foi de juros em queda firme a partir dos vencimentos intermediários refletindo, em boa medida, a expectativa com o comunicado do Copom. Não pela decisão em si, mas sim pela sinalização futura sobre a Selic.
O ambiente externo contribuiu via recuo expressivo dos preços do petróleo e certo alívio após a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, já ter deixado Taiwan, por enquanto sem consequências geopolíticas imediatas de grande magnitude, e encorajou a exposição ao risco, mesmo com o avanço da aposta de alta de 75 pontos-base pelo Federal Reserve.
O mercado teria sido ainda influenciado por ajustes no segmento de NTN-B, com investidores aparando excessos de pessimismo sobre a inflação implícita nos papéis de longo prazo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou estável ante o ajuste de terça-feira, em 13,79%, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,31% para 13,275%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,51%, de 12,674% na terça, e a do DI para janeiro de 2027, de 12,635% para 12,48%.
As taxas percorreram a manhã entre a estabilidade e viés de baixa, mas à tarde se firmaram em queda, amparada no reforço dos ajustes pré-Copom enquanto o dólar passava a cair – depois zerou o recuo – e os preços do petróleo aprofundavam as perdas para perto de 4%. A alta de 0,50 ponto porcentual no juro básico nesta quarta, para 13,75%, é dada como certa e, na curva de juros, está precificada ainda uma elevação de menor magnitude, de 0,25 ponto para a reunião de setembro. A grande expectativa é pela indicação do comunicado sobre o que vem depois.
A economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira, explica que cresceu no mercado a percepção de que os diretores vão sinalizar que o ciclo continua com uma dose mais branda ou, ao menos, vão deixar a porta aberta, sem dar a entender que o processo já terminou. "A ideia de que o Copom se manterá vigilante ajuda a desinclinar hoje a curva", afirmou.
No raciocínio do mercado, a ideia de continuidade faz sentido na medida em que as expectativas de inflação seguem acima das metas e o arcabouço fiscal se enfraqueceu, apesar de o ciclo de aperto já estar em processo bastante avançado. No exterior, há dúvidas quanto aos próximos passos de bancos centrais como o Banco Central Europeu (BCE) e o Federal Reserve, motivo pelo qual o Copom poderia evitar de se comprometer com uma sinalização clara de que as altas da Selic chegaram ao fim.
Nos aspectos mais técnicos, além de desmonte de operações de inclinação por causa do Copom, os ajustes no mercado secundário de NTN-B acabaram influenciando também o DI.
Segundo o estrategista-chefe da Necton Investimentos, Felipe Beckel, as taxas de inflação implícita dos papéis longos estavam extremamente elevadas. "O exagero nas implícitas longas faz com que mercado opte por pré em detrimento às NTN-B", comentou.