Os juros futuros fecharam a sexta-feira em leve baixa, corrigindo parcialmente as altas das últimas sessões, principalmente na ponta longa, que vinha subindo mais. O sinal de queda foi definido à tarde, depois que o mercado absorveu o choque com o relatório de emprego nos Estados Unidos, que pressionou a curva dos Treasuries e também as commodities.
O risco fiscal continuou no radar, mas o surgimento de alternativas a uma possível decretação do estado de calamidade, que poderia abrir a torneira dos gastos em ano eleitoral, traz algum alento aos investidores. Para evitar a medida, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu na quinta-feira ao presidente Jair Bolsonaro apresentar uma solução para a questão dos combustíveis.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a etapa regular em 13,425%, de 13,440% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,046% para 13,025%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,435%, de 12,455% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,31%, de 12,355% quinta-feira. No balanço da semana, pelos DIs janeiro de 2027 e janeiro de 2024, a curva ganhou 15 pontos-base em inclinação.
A sexta-feira foi de alguma volatilidade no mercado de juros. Pela manhã, oscilaram majoritariamente com sinal moderado de alta, em meio à reação negativa dos ativos globais ao relatório de emprego norte-americano, que trouxe criação de vagas (390 mil) acima do esperado (328 mil) em maio, alta nos salários e manutenção da taxa de desemprego em 3,6%. A leitura é de que o mercado de trabalho apertado pode pressionar ainda mais a inflação, exigindo um ciclo de aperto dos juros mais agressivo pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
Os juros dos Treasuries subiram, com a taxa da T-Note de dez anos tocando 2,98%, mas à tarde desacelerou a 2,94%, ajudando a encorajar uma correção em baixa na curva local, a despeito da manutenção firme do avanço nos preços do petróleo, que estão mais perto dos US$ 120.
O estrategista-chefe de renda fixa da Necton Investimentos, Felipe Beckel, atribui a virada das taxas a um ajuste técnico, com investidores trocando posições em NTN-B por prefixados. Segundo Beckel, as implícitas subiram muito nas últimas semanas com o fluxo negativo de notícias para Brasil e avanço nos preços do petróleo, enquanto no DI a curva está próxima das máximas do ano. Com a maioria das implícitas rodando a 6,5% e a curva do DI invertida, ele vê certa disfuncionalidade, o que naturalmente puxa um ajuste. "Quando tem certa irracionalidade em precificação, é natural que tenha uma virada e, neste sentido, o câmbio também favorece a desmontagem de posições", explicou.
Patricia Pereira, gestora de renda fixa da MAG Investimentos, viu algum alento no noticiário relacionado à possibilidade de adoção do estado de calamidade, que liberaria gastos fiscais no ano eleitoral, com a sinalização de Guedes para Bolsonaro, mas acredita que o assunto voltará a tona em algum momento.
A chance de aprovar a tempo uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para abrir caminho a medidas de combate à alta no preço dos combustíveis, como alternativa à calamidade e proposta por aliados do governo, na visão da gestora, é pequena. "É certo que Lira (presidente da Câmara, Arthur Lira) está correndo com a pauta no primeiro semestre, mas acredito que não dará tempo de aprovar a PEC antes do recesso", disse, lembrando que no segundo semestre os parlamentares vão se dedicar ao processo eleitoral.