Após hesitarem pela manhã, os juros futuros se firmaram em baixa à tarde nesta quarta-feira, ajustando-se à continuidade das perdas do petróleo, de mais de 2%, após já terem na terça-feira tombado 5%. A trajetória de queda das taxas se deu a despeito do avanço do dólar de novo a R$ 5,20 e da alta no rendimento dos Treasuries. Mais uma vez, a agenda de indicadores domésticos não teve força para influenciar diretamente os negócios. No balanço do mês, a curva teve perda importante de inclinação.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,73% de 13,74% no ajuste de terça, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,09% para 12,98%. A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou em 12,97%, de 12,07%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 11,75%, de 11,87%. No mês, enquanto os contratos curtos tiveram queda em torno de 40 pontos, os longos cederam cerca de 70 pontos desde o fechamento de julho.
Nesta quarta-feira, as taxas percorreram a primeira etapa sem uma direção definida, com o mercado digerindo inicialmente a inflação recorde na zona do euro em julho, que endossa os recentes alertas de dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) sobre o risco de aperto maior no juro – a instituição tem reunião de política monetária no dia 8.
Mais tarde, saíram os dados da ADP com criação de vagas no setor privado nos EUA em agosto muito abaixo do esperado, às vésperas da divulgação do payroll na sexta-feira, esfriando num primeiro momento as apostas de um Federal Reserve agressivo. A chance de alta de 75 pontos no juro na reunião de setembro chegou a cair de 73% na terça para 68,5% pela manhã, mas voltava a 72,5% no fim da tarde.
Ao mesmo tempo, a queda dos preços do petróleo foi ganhando fôlego na segunda etapa, com o barril do Brent se afastando ainda mais da "marca psicológica" de US$ 100. Fechou em US$ 95,64, acumulando perda de 8% em agosto.
"O petróleo ajuda a curva, assim como a queda dos preços vista nas coletas diárias, que reforçam a ideia de que uma alta da Selic no Copom de setembro é pouco provável", afirmou o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano. O recuo da commodity ainda amplia as chances de anúncio de cortes no preço de combustíveis pela Petrobras. "Há espaço para redução entre 5% e 10% nos preços da gasolina", comenta Serrano.
A agenda do dia trouxe a taxa de desemprego no trimestre até julho em 9,1%, em linha com a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, e superávit primário do setor público de R$ 20,4 bilhões em julho, ante mediana de R$ 22,2 bilhões. Os números fiscais positivos de curto prazo já estão, em boa medida, precificados nos ativos, e o que preocupa são as contas em 2023, em meio a promessas dos candidatos à Presidência que exigem ampliação do gasto fiscal, mas sem clareza de fonte de receitas.
No fim da tarde, o Ministério da Economia divulgou o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2023, enviado ao Congresso Nacional. A proposta não traz a prorrogação do aumento no Auxílio Brasil nem a correção da tabela do Imposto de Renda, prometidos pelo presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição.
O Auxílio Brasil veio previsto o pagamento no valor médio de R$ 405, suficiente para atender 21,6 milhões de famílias. Todos os principais concorrentes ao Planalto, no entanto, anunciaram que pretendem manter o benefício em R$ 600, ou mesmo ampliar esse valor.