Os juros futuros terminaram a sexta-feira em alta, espelhando a abertura da curva americana e o câmbio depreciado, com as preocupações sobre um aperto monetário mais agressivo e risco de recessão nas principais economias como pano de fundo. A agenda e o noticiário locais sem destaque acabaram potencializando a influência do exterior a partir dos vértices intermediários, enquanto nas taxas curtas o sinal de alta foi mais discreto.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,73%, de 13,72% na quinta-feira no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 13,01% para 13,16%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 12,13% (12,01% na quinta) e o DI para janeiro de 2027, com taxa de 11,83%, de 11,70%.
Apesar do avanço, as taxas terminaram longe das máximas de quase 30 pontos em alguns contratos, atingidas no começo da tarde. Na etapa vespertina, o rendimento da T-Note de dez anos se afastou da marca de 3% e o dólar perdeu força ante o real, reduzindo o ritmo de abertura da curva por aqui.
A sexta-feira não teve um fator central a comandar os negócios e os mercados continuaram operando em cima de dúvidas sobre como deve ser a postura do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e dos bancos centrais na Europa quanto à política monetária, em meio aos riscos para atividade.
Pelo lado do Fed, apesar da desaceleração recente nos índices de inflação nos Estados Unidos, dirigentes têm sido firmes em seus discursos sobre a necessidade de levar a inflação à meta. Na Europa, a semana foi de índices de preços surpreendentemente elevados, o que pode exigir mais firmeza das autoridades monetárias, elevando a possibilidade de efeitos colaterais sobre as economias já abaladas pela guerra da Ucrânia.
Ainda no Hemisfério Norte, a China, que passou a adotar estímulos de liquidez, entrou nesta sexta em estado de alerta por causa da seca no país, o que preocupa pelo lado da oferta de energia. As ondas de calor são as mais fortes em 60 anos.
Nesse contexto, é grande a expectativa pelo Simpósio de Jackson Hole, onde banqueiros centrais do mundo todo se encontrarão a partir de quinta-feira. O presidente do Fed, Jerome Powell fará discurso na sexta.
"Jackson Hole será importante para precificar o prêmio da ponta longa", prevê o operador de renda fixa da Mirae Asset Paulo Nepomuceno, para quem, em função do aumento das incertezas externas, a recomposição de prêmios no DI nos últimos dias deixou de ser apenas uma correção das fortes quedas nas últimas semanas. "Parece ser mais uma tendência, mas o impacto da piora externa é limitado porque já estamos no fim do ciclo de aperto da Selic", disse. "Se vier mais algum ajuste, será de 0,25 ponto, o que é residual para uma taxa que está em dois dígitos", completou, referindo-se ao juro básico de 13,75%.
Nesta semana de agenda doméstica fraca e leilões do Tesouro com lotes grandes em termos de risco, as taxas até o miolo subiram em torno de 30 pontos-base e as longas, pouco menos, cerca de 25 pontos.