Estadão

Taxas de juros sobem com exterior e cautela pré-eleição, apesar da queda do dólar

Na contramão do bom desempenho da Bolsa e do real, os juros futuros fecharam a sessão em alta, de cerca de 20 pontos-base nos vencimentos longos, justamente os que mais refletem os riscos externo e político. Do exterior, a curva doméstica foi contagiada pela crise no mercado de bônus no Reino Unido, após intervenção do Banco da Inglaterra (BoE, pela sigla em inglês). Internamente, há cautela com o processo eleitoral às vésperas do primeiro turno.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,895%, de 12,777% no ajuste de terça, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,586% para 11,74%. O DI para janeiro de 2027 terminou em 11,715%, de 11,543% no ajuste anterior.

As taxas já abriram para cima, com a intervenção no mercado de títulos pelo BoE emitindo um sinal negativo aos agentes. A autoridade monetária anunciou que fará compras temporárias de bônus do governo britânico – os chamados gilts – de longo prazo, que tiveram forte reação ao plano de corte de impostos e aumento de gastos. No primeiro leilão, nesta quarta, o BoE comprou 1 bilhão de libras em bônus, no âmbito do novo programa. Pela iniciativa, disse que compraria até 5 bilhões de libras em bônus por dia, "na escala que for necessária", em um esforço para restaurar a ordem no mercado.

Além disso, o BC inglês também decidiu adiar as vendas de Gilts que teriam início na próxima semana, como parte de um processo de aperto quantitativo. "A mensagem que o Reino Unido está passando é que vão tolerar inflação por mais tempo e, com isso, a assimetria de risco piorou", diz um gestor, que classificou o pacote fiscal como "barbeiragem". "O externo está pesando por aqui, com o risco de recessão entrando na mira", avalia.

A medida do BoE conseguiu reverter a expressiva alta nas taxas dos gilts, com repercussão também nos Treasuries, cujos rendimentos tombaram nesta quarta. Ainda, fortaleceu a libra em detrimento do dólar, que teve queda generalizada, fechando, no Brasil, em baixa de 0,50%, aos R$ 5,3497.

"Num determinado momento, o dólar chegou a ganhar força e a zerar os ganhos, mas voltou a cair. Na curva local, porém, a questão do Reino Unido gera preocupação sobre contágio para ativos mais arriscados, como títulos de países emergentes", diz o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

Com espaço para recompor prêmios nas taxas após a queda de terça, a atitude defensiva do mercado também é em parte explicada pelo risco eleitoral. "Lula adota um discurso para agradar, mas que na prática se sabe impossível, com promessas que são incompatíveis com disciplina fiscal se não houver reformas, como por exemplo a administrativa", diz Rostagno, citando como exemplos afirmações sobre a necessidade de elevação de gastos sociais e a volta de ganhos reais para o salário mínimo, sem aumento de carga tributária.

Ainda que o jantar do candidato petista na terça à noite com a chamada "nata do PIB brasileiro" tenha sido considerado "construtivo", sinalizações emitidas pelo assessor econômico do PT, Guilherme Mello, desagradam ao mercado. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele disse que se Lula vencer haverá revogação do teto de gastos com criação de novo arcabouço fiscal. Deixou em aberto o que será feito da política de preços da Petrobras e disse que não haveria aumento na carga tributária, apenas mudanças na composição.

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