Os juros fecharam o dia em alta, pressionados pela aversão ao risco no exterior decorrente das apostas de antecipação no aperto monetário nos Estados Unido e receios sobre o quadro fiscal doméstico, dada a falta de compensação para a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos e a mobilização do funcionalismo por reajuste salarial. Nem mesmo a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro vetar reajustes a todos os servidores conseguiu tranquilizar o mercado. Para compor o quadro de cautela, na terça-feira sai o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro e de 2021.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 12,07% (regular) e 12,08% (estendida), de 11,987% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,433% para 11,505% (regular)e 11,48% (estendida). A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 11,39% (regular) e 11,37% (estendida), de 11,317%.
As taxas até ensaiaram uma correção em baixa na abertura dos negócios, com a acomodação das expectativas de inflação na Focus, mas viraram ainda pela manhã, acompanhando a pressão do câmbio e a escalada no rendimento dos Treasuries. Mais dados desta segunda-feira da economia norte-americana acima do esperado – estoques no atacado e tendência de emprego – alimentaram a ideia de que o Federal Reserve começará a subir o juro em março e pode aplicar até quatro doses este ano, que já vinha se consolidando com a ata do Federal Reserve e a leitura do relatório de emprego de dezembro.
A equipe da Porto Seguro Investimentos destaca que a sinalização do Fed indica um desafio para os emergentes, lembrando que a grande maioria desses países é importadora líquida de capitais internacionais. "Isso significa que a mera expectativa de aperto monetário nos EUA desestimula o fluxo de entrada de recursos nessas economias, consequentemente pressionando suas moedas. Uma taxa de câmbio mais depreciada, por sua vez, acentua as pressões inflacionárias nessas regiões", diz relatório da instituição.
À tarde, as taxas desaceleraram um pouco a alta na medida em que tanto o avanço do dólar ante o real quanto o do retorno da T-Note perderam força.
Internamente, o foco do noticiário se manteve em Brasília e a questão dos reajustes para servidores se manteve na ordem do dia, dado que várias categorias seguem operando em "modo paralisação" em protesto contra a decisão de Bolsonaro de reajustar exclusivamente salários de policiais. No fim de semana, o presidente afirmou que "pode não haver reajuste para ninguém", em linha com a orientação do ministro Paulo Guedes, que alertou-o de que conceder o reajuste a apenas uma categoria vai aumentar a pressão.
O mercado, aparentemente, não comprou a ideia. "Efetivamente, a possibilidade de retroceder é difícil. O mercado parece não estar apostando neste discurso", disse o analista de Investimentos Renan Sujii. Até porque descumprir o prometido pode ter consequências. Representantes da categoria afirmaram reservadamente ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que um possível recuo pode fazer policiais irem às ruas criticar uma "falta de compromisso" do presidente para com o órgão.
Na terça-feira, a agenda da semana começa a esquentar com o IPCA logo na abertura da sessão. A mediana das estimativas aponta desaceleração de 0,95% em novembro para 0,65% em dezembro. Para o ano, a mediana é de 10%, o que representará estouro da meta de inflação, cujo teto é de 5,25%.